Partidarismo nas comunicações oficiais dos congressistas americanos
Gisele Barão da Silva*
A influência do partidarismo na comunicação política é o objeto de estudo do artigo “How Partisanship Influences What Congress Says Online and How They Say It”, de Richard T. Wang e Patrick D. Tucker. Publicado na revista American Politics Research em 2020, o artigo parte da análise de aproximadamente 180 mil comunicados de imprensa publicados em sites oficiais de congressistas norte-americanos entre 2005 e 2019. O material permitiu aos pesquisadores examinar se fatores partidários têm interferência no tom utilizado nesses releases. As evidências corroboram com essa ideia.
Na avaliação dos autores, uma das principais razões que tornam relevante o estudo de publicações como os releases está relacionada ao seu potencial de amplificação: sua produção exige poucos recursos e, ao mesmo tempo, tem alto potencial de adesão dos jornais locais à reprodução do seu conteúdo – ao menos no contexto analisado. Ao associar essas produções a variáveis relativas ao tom e ao partidarismo, preenche-se uma lacuna nos estudos da área da Comunicação e Política. Além disso, a discussão se insere em um período em que cresce o uso da internet como ferramenta para que atores políticos apresentem suas ideias para público em geral, eleitores e imprensa.
Um dos argumentos de Wang e Tucker é que, dependendo de qual partido estiver no controle da Casa Branca, os membros do Congresso tendem a empregar um tom mais positivo ou negativo em seus comunicados oficiais. Dessa forma, parceiros do presidente em atividade buscam garantir uma agenda favorável para ele, enquanto que a oposição o ataca para influenciar a opinião pública contra ele. No que diz respeito ao Senado, os autores apontam que, devido à necessidade de se ter uma cobertura eleitoral mais ampla, supostamente os representantes podem ser menos “paroquiais” em sua comunicação.
Wang e Tucker aplicaram o método de análise de sentimento para estudar as variações de tom nos comunicados de democratas e republicanos, e adotaram uma série de critérios para conferir maior homogeneidade ao material coletado – excluindo, dessa forma, alguns comunicados publicados apenas em formato de vídeo, por exemplo, ou com caracteres especiais não contabilizados pelo sistema de análise utilizado na pesquisa.
Esse processo pode ser apontado como um grande desafio e/ou limitação do estudo: trata-se de uma análise de materiais não necessariamente padronizados em sua construção, estrutura e periodicidade, o que dificulta a generalização dos resultados. Por outro lado, o artigo tem o mérito de buscar um resultado com grande amplitude longitudinal – são 15 anos de material, o que ajuda a demonstrar variações contextuais importantes. Para quem produz pesquisa na área da Comunicação Política, a leitura desse artigo serve como uma referência interessante sobre comunicados oficiais ou releases.
Conforme previa uma das hipóteses, as posições de poder na Casa Branca de fato influenciam uma comunicação mais positiva e otimista dos congressistas aliados. Já políticos não aliados à presidência fazem ataques com mais frequência. A título de exemplo, os republicanos eram, em média, mais positivos em seus releases do que os democratas durante o mandato de George W.Bush. Após a posse de Obama, os democratas assumiram um tom bem mais otimista.
No entanto, há variações, mesmo entre os apoiadores, quando se trata de membros menos “populares”. A marginalidade desses congressistas também acarreta em um tom mais positivo na comunicação política, independentemente da filiação. As eleições são outro fator de influência no tom dos releases.
Em suma, o estudo afirma que o partidarismo afeta não só o que se diz, mas como se diz. As diferenças estão na expressividade do ator político – o apego a temas partidários é mais frequente naqueles de maior expressão.Na avaliação dos autores, os resultados apontam para um tipo de polarização que tem como consequência a falta de discursos significativos. Ou seja, levar a questão partidária e o engajamento ao extremo acaba por oferecer ao público informações incompletas ou até falaciosas, já que pesquisas anteriores, como de Grimmer (2013) e Cohen (2003), mostram o potencial de influência desse tipo de material em tomadas de decisão e avaliação dos representantes no processo político.
REFERÊNCIA
Wang, R.T.; Tucker, P.D. How Partisanship Influences What Congress Says Online and How They Say It. American Politics Research, 49(1), 1-15, 2020.
* Doutoranda em Comunicação pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e jornalista da E-Paraná Comunicação.
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