As sondagens de opinião
Por Pedro Henrique Fonseca Barbosa*
O livro “Sistema Político Brasileiro: uma introdução”, organizado por Lúcia Avelar e Antônio Octávio Cintra, conta com a participação do cientista político Alberto Carlos Almeida, que escreve sobre a formulação e utilização das sondagens de opinião no Capítulo 2 da obra.
Alberto realizou sua graduação em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e, posteriormente, concluiu o seu Mestrado e Doutorado em Ciência Política pelo Instituto Universitário de Pesquisas do Rio de Janeiro.**
As sondagens de opinião, de fato, ganham maior visibilidade principalmente em períodos eleitorais, quando se procura saber quais indivíduos estão com maior chance de vitória, mas elas estão presentes em outros momentos também. Em suma, a influência das pesquisas de opinião é resultado da democratização da sociedade: quanto mais igualdade e competitividade, as empresas, os políticos e outras organizações buscam saber qual a opinião do público diante determinado assunto. Almeida, portanto, se dedica a explicar as técnicas envolvidas, a discutir sobre as particularidades de uma sondagem política, a influência e a regulamentação das sondagens, os diferentes usos das sondagens políticas e a relação entre sondagem de opinião pública e o sistema político brasileiro.
Assim sendo, Almeida evidencia que existem três etapas principais de uma pesquisa de opinião: elaboração da amostra, formulação do questionário e realização do trabalho de campo. Há também a etapa posterior, constituída pelo processamento e a análise de dados, mas menos importante, devido que as três etapas prévias apresentam a fonte de erro e o autor destaca que “em geral o processamento e a análise de dados não causam erros na mesma proporção e na mesma magnitude do que uma ou mais dessas três etapas” (p. 417).
A amostra é uma pequena proporção da população que se deseja estudar e toda amostra apresenta uma estatística. Essas estatísticas são capazes de se transformarem em estimativas que podem dizer a respeito de toda uma população. No entanto, há de se considerar que todas as estimativas apresentam o chamado erro amostral ou margem de erro, pois a amostra é um número reduzido da população e não ela ao todo.
A margem de erro da pesquisa, combinada com o intervalo de confiança, diz o quão distante a estatística da amostra tende a ficar em relação ao verdadeiro valor da característica estudada na população. Assim, se na amostra 60% são a favor e o erro amostral é de mais ou menos 3 pontos percentuais, isso quer dizer que a verdadeira proporção na população dos que são a favor é algum número entre 57 e 63%. A margem de erro só pode ser compreendida em conjunto com o intervalo de confiança. Quando uma amostra é desenhada para uma margem de erro de 3% e um intervalo de confiança de 95% (o intervalo de confiança mais comum), significa que, se forem realizadas cem pesquisas, em 95 delas, para ficar no mesmo exemplo, a estatística amostral tenderá a cair entre 57 e 63% das pessoas a favor (p. 418).
O questionário, passível de ser fonte de erro não-amostral, é fundamental para obter as informações desejadas para elaborar a pesquisa de opinião. Logo, é necessária muita atenção para a formulação do questionário, pois de acordo com o autor “um questionário mal elaborado pode resultar em erros bem mais graves do que os erros amostrais” (p. 419). Enquanto o erro amostral tem como base a matemática, o erro proveniente do questionário tende a ser mais complexo devido ao processo experimental, ou seja, será necessário utilizar novas perguntas, testar se a ordem das perguntas não manifesta nenhum comprometimento com o resultado desejado.
Almeida exemplifica o erro não-amostral ao apresentar o resultado de duas perguntas distintas sobre o tema religião. A pergunta 1, aberta e com respostas pré-codificadas, e a pergunta 2, elaborada a partir de uma lista de religiões, ambas apresentam resultados diferentes. Em particular sobre a religião católica, a pergunta 1 apresentou 58%, enquanto a pergunta 2, 52% das respostas. De acordo com o autor, essa diferença consiste no fato que a primeira pergunta expôs a religião católica como primeira opção, e isso leva os indivíduos a escolherem essa opção, seja por acomodação ou tradição, já a segunda pergunta, está em oitava opção na lista. O autor, portanto, conclui que provavelmente a segunda pergunta leva aos resultados corretos.
Para falar da importância do trabalho de campo, Almeida comenta sobre o impacto dos erros em um eventual segundo turno de eleição. Isto é, se uma pesquisa com uma amostra de 1.200 entrevistas apresenta somente 12 questionários preenchidos de maneira errônea, de forma que o candidato A esteja recebendo votos do candidato B, isso pode equivaler ao menos dois pontos percentuais, impactando negativamente o resultado da pesquisa. Dito isso, o autor afirma que há duas bases essenciais para realizar um trabalho de campo com qualidade: equipe bem treinada e fiscalização rigorosa. A primeira é capaz de diminuir os erros sistemáticos, ao transmitir todas as regras necessárias para realizar o trabalho de campo, enquanto que a segunda é importante para avaliar se as regras estão sendo cumpridas.
As três etapas, portanto, são essenciais para que o resultado final da pesquisa de opinião seja positiva, e o autor enfatiza:
Para que uma pesquisa não tenha erros (além do erro amostral), é necessário que a amostra seja bem feita, o questionário não induza o entrevistado a determinadas respostas e o trabalho de campo não resulte em nenhum tipo de viés. Uma sondagem tecnicamente bem executada é a que alcança tais objetivos (p. 422).
Em relação às sondagens políticas, elas constituem-se das mesmas etapas de qualquer sondagem de opinião, mas com a temática política. Os questionários de sondagem política apresentam duas partes. A primeira é o núcleo básico, que aborda o local de votação, o local de moradia, o sexo, a idade e a escolaridade, a fim de filtrar o entrevistado. Além disso, há possibilidade de ter perguntas para saber a característica do eleitorado, como intenção ou rejeição de voto, avaliação dos governos, variáveis econômicas e políticas. Já a segunda parte, que configura os demais temas para abordar, pode variar muito de acordo com o que busca, entretanto, é comum ter perguntas sobre a imagem dos candidatos, dos problemas que cercam a unidade da eleição, os discursos, as propostas e de eventos conjunturais. Ou seja, a sondagem política varia muito de acordo com o que o contratante quer e qual a finalidade.
A influência das sondagens de opinião sobre o eleitorado é um tema movimentado e a maioria dos indivíduos acredita que realmente é passível de acontecer. Deste modo, Almeida afirma que “os estudos científicos já realizados sobre esse assunto só chegam a um consenso: não há análises consistentes que comprovem empiricamente que as pesquisas influenciam a decisão do eleitor” (p. 424).
No decorrer do trabalho, o autor expõe que a regulamentação das sondagens eleitorais passou por transformações na década de 80. Assim sendo, nas eleições de 1982, 1985 e 1986, as pesquisas eram proibidas de serem divulgadas pela mídia nos últimos 15 dias precedentes às eleições – deste modo, a regulamentação tinha como base controlar a divulgação das pesquisas. Todavia, a eleição de 1986 apresentou um avanço na regulamentação das pesquisas eleitorais, pois “passou-se a exigir que todas as pesquisas feitas para finalidade de divulgação na mídia fossem registradas junto aos Tribunais Eleitorais” (p. 426).
A aprovação da Constituição em 1988 é considerada um marco pois deu origem ao arcabouço jurídico democrático, visto que direitos individuais como a liberdade de expressão tornaram-se garantidos. Consequentemente, foi essencial para a promoção das pesquisas de opinião diante da sociedade.
Logo, com a expansão das sondagens políticas ao decorrer dos anos, principalmente após a Constituição de 88, cada setor da sociedade passa a atribuir às pesquisas objetivos diferentes. De acordo com Almeida, as empresas têm função fundamental para compreender o consumo interno, e destaca que “de um modo geral o que as empresas buscam, em eleições nacionais, estaduais ou municipais, é estimar a taxa de risco de seu negócio, considerando- se os prováveis resultados eleitorais.” (p. 427)
Já a imprensa pode usar as sondagens como forma de atrair o receptor, seja com reportagens explorando um tema específico ou com notícias. Enquanto que os políticos podem fundamentar suas estratégias de campanha de acordo com os resultados das sondagens, possibilitando mapear o eleitorado, detalhando o perfil sociodemográfico, as intenções de voto, preferências ideológicas e avaliações de governos. Para o autor, “a sondagem é, portanto, um poderoso instrumento que contribui para a racionalização de uma campanha eleitoral” (p. 428).
Reiterando, uma das características fundamentais das sondagens de opinião pública é tentar buscar quais são as ideias dos entrevistados diante determinado assunto. Sendo assim, o Brasil apresenta uma discussão sobre qual o sistema eleitoral mais adequado ao país e Almeida afirma a possibilidade de as sondagens de opinião pública auxiliarem na decisão por algum desses sistemas.
Para isto, o autor expõe que o atual sistema político brasileiro não promove a lembrança dos votos para deputado estadual e federal, pois de acordo com uma pesquisa realizada dois meses após o pleito, cerca de 55% de todo eleitorado não se lembrava ou não sabia responder em quem tinham votado, enquanto somente de 28% a 32% se recordava. As informações provenientes das sondagens de opinião, portanto, revelam algumas possibilidades que permitem questionar se tal sistema onde grande parte dos eleitores não se recordam dos seus votos não é passível de mudança e, da me