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Por que governos locais utilizam as redes sociais digitais?

Por Andressa Butture Kniess*

No texto “The good, the bad and the ugly: Three faces of social media usage by local governments”, os autores Patrícia Silva, Antônio F. Tavares, Tiago Silva e Mariana Lameiras analisam quais são os determinantes – institucionais, políticos e sociais – que impulsionam o uso de sites de redes sociais por governos locais. Para isso, eles examinam todas as postagens no Facebook (n = 55.781) feitas por 290 municípios portugueses durante um período de três meses (setembro, outubro e novembro de 2016). Além disso, consideram também o número de seguidores de cada conta e os dados e econômicos e sociodemográficos dos municípios.

O objetivo desses autores é preencher três lacunas da literatura. Em primeiro lugar, ainda não está claro se os fatores que afetam a adoção do governo eletrônico também influenciam os níveis de utilização de redes sociais digitais. Em segundo lugar, poucos trabalhos questionam o que impulsiona governos locais a utilizarem essas plataformas em diversos níveis de intensidade. E, por fim, os incentivos políticos a essa estratégia de comunicação também foram pouco examinados.

Silva et al. (2019) apresentam nove hipóteses de trabalho. As primeiras três hipóteses se referem aos incentivos institucionais. Os autores acreditam que a capacidade econômica dos municípios, a sua capacidade administrativa (número de funcionários) e o seu compromisso com a transparência pública exercem efeito positivo sobre a atividade desses governos no Facebook.

Em seguida, são propostas quatro hipóteses referentes aos incentivos políticos. Eles sugerem que maior competição eleitoral e maior alternância de prefeitos são variáveis que exercem efeito positivo sobre a atividade desses municípios no Facebook. Além disso, propõe que municípios liderados por partidos de esquerda e com níveis mais baixos de participação tendem a ser mais ativos nessa rede social – considerando que esses mecanismos de comunicação podem ser eficazes no sentido de encorajar o interesse e a participação de cidadãos.

E finalmente, há duas hipóteses que dizem respeito aos incentivos sociais. Silva et al. (219) propõem que que a atuação de governos locais no Facebook é influenciada positivamente pelo tamanho da população municipal e pelo seu poder de compra.

Os resultados mostram que a grande maioria dos municípios portugueses aderiu ao Facebook, embora sua atividade ainda seja relativamente baixa (em média, esses governos postam duas vezes ao dia). Um resultado que chama atenção é o número extremamente baixo de comentários dos usuários (em média 0,10 por postagem). Além disso, a interação parece ser maior em municípios menores.

Em relação às variáveis independentes, os autores concluem que os incentivos sociais explicam cerca de 37% da variação do modelo, os incentivos institucionais explicam cerca de 27% e os incentivos políticos explicam em torno de 19% da variação do modelo. Abaixo, são apresentados os resultados de cada variável:

1) Incentivos sociais: Tanto o tamanho da população quanto o seu poder de compra exercem efeito positivo sobre a utilização no Facebook por parte de governos locais.

2) Incentivos institucionais: Quando analisadas somente as variáveis institucionais, capacidade econômica e administrativa dos municípios e o seu compromisso com a transparência exercem efeito positivo sobre a atuação desses governos no Facebook. Entretanto, no modelo completo (que considera todas as variáveis), somente o comprometimento com a transparência mantém seu efeito positivo e significativo.

3) Incentivos políticos: Tanto o modelo limitado quanto o modelo completo sugerem que níveis mais altos de competição política geram atuação mais extensa no Facebook. O mesmo resultado, entretanto, não foi encontrado em relação à alternância de prefeitos – a continuidade política se mostra um forte preditor da utilização dessa rede social. Em relação ao posicionamento ideológico dos administradores locais, não há evidência que essa seja uma variável relevante (a idade é o único fator individual que interfere na atividade municipal na rede social analisada). E, por fim, governos locais parecem usar mais o Facebook quando os níveis de participação são mais baixos.

O trabalho aqui apresentado é bastante relevante por trabalhar com um conjunto extenso de dados a fim de analisar governos locais. Dessa forma, torna-se um estudo que pode guiar pesquisas futuras que trabalhem com um número menor de municípios ou com outras técnicas metodológicas. Vale destacar que os governos locais são frequentemente marcados por determinadas especificidades que podem ser mais facilmente compreendidas por pesquisas qualitativas. Contudo, trabalhos como o de Silva et al. (2019) são importantes justamente por apresentarem muitas informações que direcionam os pesquisadores aos elementos que merecem análises mais profundas. E é também importante ressaltar que esses autores se esforçam para entregar um estudo bastante transparente e organizado, respondendo a todas as hipóteses propostas de forma bastante convincente.

REFERÊNCIA

SILVA, P., TAVARES, A. F., SILVA, T., LAMEIRAS, M. The good, the bad and the ugly: Three faces of social media usage by local governments. Government Information Quarterly, vol. 36, n. 3, p. 469-479, 2019.

* Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Ciência Política da Universidade Federal do Paraná com bolsa de pesquisa concedida pela Capes. Bacharela em Ciências Sociais e Mestre em Ciência Política pela mesma universidade. Integrante do Grupo de Pesquisa em Comunicação, Política e Tecnologia (PONTE).

As opiniões expressas pela(o)s autora(e)s pertencem a ela(e)s e não refletem necessariamente a opinião do Grupo de Pesquisa e nem de seus integrantes.

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