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Impeachment por quê? As respostas de jornais brasileiros sobre o caso Dilma Rousseff

Por Gisele Barão da Silva*

Quando se fala no governo de Dilma Rousseff (PT), é comum que a cobertura jornalística da época seja mencionada como um dos fatores influentes no processo que culminou no seu impeachment. Esse tema, inclusive, já foi abordado em diversas pesquisas acadêmicas. Entre os exemplos estão o estudo de Van Dijk (2017), sobre os editoriais do jornal carioca O Globo no período; e de Albuquerque (2019), que argumenta que a imprensa brasileira atuou contra a ordem democrática ao defender a saída de Dilma.

No entanto, dentro desse conjunto de pesquisas, havia ainda um espaço a ser preenchido: um estudo empírico que combinasse métodos qualitativos e quantitativos para revelar, de modo mais detalhado, como os jornais brasileiros se posicionaram diante desse importante acontecimento político. E mais: que mostrasse em que medida a cobertura editorial de grandes jornais apresentou diferenças e semelhanças ao longo do processo.

É essa lacuna metodológica e analítica que o artigo “Editorial journalism and political interests: Comparing the coverage of Dilma Rousseff’s impeachment in Brazilian newspapers”, dos pesquisadores Francisco Paulo Jamil Marques, Camila Mont’Alverne e Isabele Mitozo, procura preencher. Publicado na Revista Journalism em 2019, o artigo analisa o conteúdo de 506 editoriais dos jornais Folha de S.Paulo e O Estado de S.Paulo para revelar a opinião editorial dos dois jornais de forma aprofundada.

O trabalho parte de três questões: Que argumentos os editoriais têm a favor ou contra o impeachment de Dilma e como os jornais se diferenciam na apresentação de tais argumentos?; Qual a melhor solução para a crise política de acordo com os editoriais?; e Quais são as possíveis consequências do processo de impeachment de acordo com os editoriais?

A discussão teórica do artigo trata basicamente de jornalismo editorial, com referências como Adam et al. (2019), Eilders (1999), Firmstone (2019), Gronemeyer e Porath (2015), Donsbach (1997), Kahn e Kenney (2002), Chiang e Knight (2008), Druckman e Parkin (2005) e Scarrow e Borman (1979). Entre os debates levantados por meio dessa bibliografia, estão a compreensão do editorial dos jornais não apenas como um espaço opinativo, mas como uma ferramenta de defesa de determinados atores. Também leva-se em conta o seu poder de influência sobre decisões políticas.

Pode-se pensar que a Folha e o Estadão mantiveram uma cobertura editorial semelhante sobre o tema, mas a pesquisa revela que houve sim algumas dissonâncias. Embora ambos tenham se posicionado a favor da saída da presidente, existem diferenças importantes na forma como fizeram isso, desde a quantidade de textos publicados sobre o assunto até os argumentos utilizados − que, em alguns casos, sequer condiziam com as justificativas apresentadas no processo em si. A tabela apresentada no artigo sobre os “argumentos legitimadores” para a destituição da presidente inclui itens como corrupção, crise econômica (o mais presente nos textos), crise política e incompetência.

Os primeiros apontamentos da análise referem-se à frequência dos textos publicados pelos dois periódicos. Os jornais começaram a discutir a possibilidade da destituição de Dilma em fevereiro de 2015, logo depois do início do seu segundo mandato, em janeiro. Na medida em que o processo avançava na Câmara Federal, o número de editoriais publicados sobre o assunto aumentou significativamente.

Os dois jornais concordaram que Dilma deve ser destituída do cargo, mas diferem na forma como defenderam essa posição. Enquanto a Folha equilibrou sua cobertura mencionando, entre as soluções, além do “Impeachment”, “Novas eleições” e “Renúncia”, no Estadão o “Impeachment” ocupou mais de  80% dos textos que citavam algum tipo de solução. O tópico sobre as consequências do processo mostra mais claramente as diferenças entre as publicações. Enquanto o Estadão se mostrou mais otimista quanto ao cenário pós-impeachment, a Folha demonstrou, em seus editoriais, dúvidas sobre o futuro político e econômico do Brasil.

De maneira geral, a análise dos editoriais publicados sobre o caso engloba reflexões fundamentais para a política latinoamericana, como o papel dos jornais em contextos de instabilidade política, e de que forma o jornalismo opinativo trabalha com os princípios democráticos. Os autores do artigo finalizam indicando que, quando as empresas jornalísticas usam alegações não relacionadas às acusações para justificar sua defesa pelo impeachment – o que aconteceu no caso de Dilma Rousseff, pode haver uma preocupação maior com os próprios interesses do que em respeitar as regras da democracia.

Referência

MARQUES, F. P. J. A.; MONT’ALVERNE, C.; MITOZO, I. B. . Editorial journalism and political interests: Comparing the coverage of Dilma Rousseff?s impeachment in Brazilian newspapers. Journalism, v. 1, p. 1, 2019.

* Doutoranda em Comunicação pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e jornalista da E-Paraná.

As opiniões expressas pela(o)s autora(e)s pertencem a ela(e)s e não refletem necessariamente a opinião do Grupo de Pesquisa e nem de seus integrantes.

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