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Produzindo notícias

Por Deivison Santos*

Título do verbete comentado: News Production Routines

Autores do artigo comentado: Camila Mont’Alverne e Francisco Paulo Jamil Marques

Mont’Alverne e Marques (2019) se debruçam sobre as características que definem a rotina de produção noticiosa. Os autores se dedicam a tratar de aspectos chave relacionados ao processo de institucionalização e padronização da prática jornalística, sobretudo sob inspiração estadunidense. De início, eles ressaltam a desvinculação dos antigos jornais partidários, ali por volta do final do século XIX, das agremiações e grupos políticos aos quais pertenciam, tendo como objetivo atingir uma audiência mais ampla.

É aí que se encontra um dos momentos fundamentais da história do surgimento e da constituição do jornalismo comercial. Um vez assumida a “meta” de alcançar audiências mais amplas, que não eram atingidas pelo antigo modo partidário de produção jornalística, formulou-se um conjunto de normas e valores que foram sendo fundidos à ideia de notícia e sua produção. Critérios visando a garantia da objetividade na cobertura, a separação explícita entre notícia e opinião e a definição dos elementos que conformariam o que é conhecido como “valor notícia” são fatores essenciais para se compreender esse período de institucionalização do jornalismo, destacados pelos autores aqui discutidos.

Os pesquisadores também pontuam que características como clareza, importância e imprevisibilidade, que permeiam o que é definido como “valor notícia”, podem variar sutil ou substancialmente dependendo do sistema de mídia, da cultura jornalística e do canal no qual a informação é veiculada. Os sistema midiáticos de alguns países, assim, podem priorizar ou até mesmo tolerar algumas práticas na rotina de produção noticiosa que outras nações, com outros sistemas, não admitiriam. Isso também vale para a cultura jornalística: mudando-se as crenças e valores em jogo em uma dada sociedade, pode-se alterar, também, as práticas que marcam a produção de notícias. Por fim, algumas informações podem ser mais atrativas para certos canais do que outras. Podem haver variações, por exemplo, nos eventos noticiados na TV, no rádio ou em jornais, bem como podem existir diferenças na forma pela qual a notícia é apresentada.

Ademais, Mont’Alverne e Marques (2019) também debatem as mudanças provocadas pela ascensão dos medias digitais, a exemplo da avaliação por parte das empresas jornalísticas de quais matérias mais estão chamando atenção nas redes online dos jornais. Outro fator que gera constrangimentos entre as instituições de impressa e seus profissionais são as relações às vezes próximas demais entre os setores dedicados à produção de notícias e à publicidade que, no ponto de vista normativo do jornalismo, deveriam ser tratados com Igreja e Estado.

Embora breve, como é de se esperar de um verbete, o trabalho dos referidos autores joga luz sobre uma série de questões que são fundamentais para se compreender o processo de produção noticiosa, suas nuances, variações e desafios na Era digital. 

REFERÊNCIA:

Mont’Alverne, C. & Marques, F. P. J. (2019). News Production Routines. In: Tim P. Vos & Folker Hanusch, The International Encyclopedia of Journalism Studies. John Wiley & Sons.

INDICAÇÃO DE LEITURA COMPLEMENTAR:

Schudson, M. (2018). News. In: Tim P. Vos & Folker Hanusch, The International Encyclopedia of Journalism Studies. John Wiley & Sons.

  * Graduado em Ciências Sociais, com habilitação em Ciência Política, pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Mestrando do Programa de Pós-graduação em Ciência Política da UFPR. Membro do Grupo de Pesquisa em Comunicação, Política e Tecnologia (PONTE/UFPR) e do Grupo de Pesquisa Discurso, Comunicação e Democracia (DISCORD/UTFPR). Bolsista Capes.

As opiniões expressas pela(o)s autora(e)s pertencem a ela(e)s e não refletem necessariamente a opinião do Grupo de Pesquisa e nem de seus integrantes.

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