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Quais orientações seguir para trabalhar com análise de risco político?

Miriã dos Santos*

Aos cientistas políticos formados ou em formação que avistam e compreendem o convidativo mercado de trabalho envolvendo o risco político e que desejam se profissionalizar para tal, devem ler o capítulo de Marques (2014) intitulado “Rumo a uma matriz preliminar para análise e mensuração do risco político”, que se encontra discutido neste texto.

O objetivo do autor é “(…) mostrar uma matriz de avaliação do risco de acordo com a sua severidade (impacto) e possibilidade de ocorrência (probabilidade)” (MARQUES, 2014, p. 182) devido a necessidade de uma identificação adequada dos riscos políticos para que se possa gerenciá-los. Ou seja, precisa-se distinguir os riscos políticos por meio de “(…) seus tipos e condições de ocorrência, avaliação inicial de suas possíveis severidades e probabilidades, a mensuração dentro das possibilidades proporcionadas pelos dados disponíveis, a gestão integrada com outros riscos e o respectivo monitoramento” (MARQUES, 2014, p. 182-183).

Marques (2014) concentra seu capítulo em uma abordagem de análise do risco político que está direcionada para a perspectiva de atuação e expansão empresarial, pois “(…) o risco político é um fenômeno muito comum para as empresas, por exemplo, que atuam fora de seus respectivos Estados de origem e que temem ações governamentais como quebras de contratos, confiscos, nacionalizações ou mesmo mudanças repentinas de estruturas tributárias” (MARQUES, 2014, p. 183).

Além disso, há o fenômeno da globalização econômica que resultou em “um acirramento desse tipo de risco associado à ‘desfronteirização’ dos negócios” (MARQUES, 2014, p. 183), o que consequentemente fez com que os gestores das empresas passassem a considerar os riscos políticos.

O primeiro passo para realizar uma análise de risco político, e sobretudo uma análise voltada ao mercado empresarial, é compreender que este possui impasses e particularidades devido às dificuldades de quantificá-lo. Desta forma, o autor propõe que o analista transforme as incertezas do risco político em algo mensurável e que não esqueça que o mesmo possui “(…) bases de dados mais raras, inconstantes e inconsistentes no tempo, demandadoras de técnicas estatísticas para suprir as deficiências de suas descontinuidades e cuja interpretação é muito mais subjetiva” (MARQUES, 2014, p. 189).

Com consciência de que o risco político não é algo de simples manuseio, o analista precisa organizar a forma como irá trabalhar com seu objeto e, portanto, precisa ter em mente que “(…) o mais importante seria organizar a incidência desses riscos (…) entre aqueles passíveis de um maior controle, porque catastróficos e aqueles comuns (ordinários) e talvez um pouco significantes” (MARQUES, 2014, p. 191). Então, após identificar a magnitude do risco político em estudo, o analista precisa “estabelecer uma relação direta entre causas e consequências, a fim de verificar se de fato são riscos passíveis a serem analisados e mensurados, ou se já fazem parte da estrutura do negócio” (MARQUES, 2014, p. 192).

Outro fator importante a se considerar acerca da mensuração da análise de risco político, é a ausência de uma cultura de realização deste tipo de análise por parte das empresas e até por parte do Estado, que, por consequência, resulta no apego de algum grau de subjetividade. Quanto a isso, é essencial que o analista tente “(…) ‘banalizar’ essa subjetividade por meio de uma análise imparcial e bem informada do problema” (MARQUES, 2014, p. 195) e, para isso, técnicas de probabilidade e porcentagem são utilizadas como forma de facilitar este trabalho.

O autor recomenda que o analista atribua pontos para tudo que possa agir sob o risco político, sendo o total destes pontos 100 (100%). Portanto, se, por exemplo, avaliou-se um ponto e atribuiu para ele 12 pontos de 100 (12%), pode-se analisar as especificidades deste ponto de análise e categorizá-las de acordo com seus impactos, sendo eles: a) imprescindíveis; b) importantes; c) razoáveis; d) pouco importantes; c) quase desimportantes; e) não aplicáveis. Ou seja, precisa-se hierarquizar os fatores de riscos de acordo com seu percentual de importância.

É importante frisar que o risco político está totalmente ligado a duas questões: probabilidade e impacto, sendo que são justamente elas que “(…) nos darão uma medida aproximada do risco e, portanto, permitirão uma melhor aproximação para o seu gerenciamento” (MARQUES, 2014, p. 201). Ademais, o analista deve considerar o impacto em cinco níveis: muito baixo, baixo, médio, alto e muito alto; e para a probabilidade se aplica uma pontuação de 1 a 5, seguindo a mesma lógica do impacto. Desta maneira, “a combinação entre impacto e probabilidade, isto é, a multiplicação dos escores é que vai nos dar a ideia da significância desses riscos” (MARQUES, 2014, p. 201-202).

Como forma de concluir o raciocínio do autor, é preciso que toda a alta gestão de uma empresa esteja atenta às consequências advindas por meio dos riscos políticos, pois negligenciá-los é deixar a empresa à mercê da ruína. Logo, o texto de Marques reforça como a figura do analista de risco político é imprescindível para o sucesso e melhor desenvolvimento dos negócios de uma empresa.

Em síntese, Marques (2014) apresenta métodos quantitativos e qualitativos para realizar a análise de risco político e, embora apenas aconselhe quanto ao seu modo de elaboração e não apresente estratégias práticas como exemplos para minimizá-los, suas orientações colaboram para que o analista possa encontrar as respostas desejadas.

REFERÊNCIA

MARQUES, Moisés da Silva. Rumo a uma matriz preliminar para análise e mensuração do risco político. In: OLIVEIRA, F. R. de; MARQUES, M. da S. Introdução ao risco político: conceitos, análises e problemas. 1. ed. Rio de Janeiro: Campus/Elsevier, v. 1, p. 181-209, 2014.

* Miriã dos Santos é graduanda em Licenciatura em Ciências Sociais pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e compõe o Laboratório de Partidos e Sistemas Políticos (LAPeS) da mesma universidade. Currículo Lattes: <http://lattes.cnpq.br/5951648445207167>.

As opiniões expressas pela(o)s autora(e)s pertencem a ela(e)s e não refletem necessariamente a opinião do Grupo de Pesquisa e nem de seus integrantes.

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