Padrões interativos no Twitter de deputados e senadores brasileiros
Gisele Barão da Silva*
Publicado na revista New Media & Society em 2021, e produzido a partir de uma parceria entre pesquisadores do Brasil e do Peru, o artigo “Political discourses, ideologies, and online coalitions in the Brazilian Congress on Twitter during 2019” busca descrever qual o padrão de interação de políticos brasileiros no Twitter.
Os cinco autores (Efraín García-Sánchez, Pedro Rolo Benett, Gustavo Lucas Higa, Marcos César Alvarez e Erick Gomez-Nieto) analisam perfis de deputados e senadores, observando suas interações na rede social e o conteúdo das publicações ao longo de 2019. O escopo reuniu 20.076 respostas (replies) postadas por 514 políticos. Na avaliação dos pesquisadores, o padrão de interações permite identificar o que chamam de “coalizões online”, que reforçam determinados discursos e ideologias – e que, na visão deles, podem explicar parcerias que se estendem à prática.
Uma das primeiras observações apresentadas no estudo é que há grande disparidade no comportamento dos políticos em ambientes online. Foram definidos pelos autores diferentes tipos de interações, conforme as afinidades políticas, e algumas características quanto à composição e impacto. Além disso, a centralidade dos políticos na rede foi positivamente associada ao endosso público – ou seja, às repercussões, interações e curtidas.
O artigo tem a vantagem de situar o Brasil num contexto internacional em que se popularizaram as redes sociais no ambiente político e tem-se reforçado a polarização, ainda que tenhamos uma estrutura complexa com grande número de partidos. As particularidades do cenário político brasileiro colaboram para justificar a necessidade de um estudo como esse: um dos exemplos é o papel fundamental da comunicação online nas eleições de 2018. Vale lembrar que o PSL, um partido que tinha pouca representatividade, contou com essa estratégia e conseguiu 52 cadeiras no Congresso. Também temos um presidente que se elegeu com discursos de ataque a opositores e à imprensa, colocada como inimiga.
Apesar do que eles chamam de “diversidade política” no Brasil, pela grande quantidade de partidos, é notável a formação de coalizões, as bancadas, que vão além de partidos políticos. Um dos argumentos do estudo é que essas coalizões são formadas também em ambiente online, em busca de influência na agenda legislativa.
Para construir o referencial teórico, os pesquisadores articulam temas como discurso político, mídia social e democracia. Entre os autores citados, estão Van Dijk (2003), Gervais (2015), Waisbord e Amado (2017) e Jakob (2020). Um dos pontos levantados na discussão teórica é justamente o uso de redes sociais digitais na política, seja para encontrar redes de apoio; alcançar eleitores em potencial ou reforçar ideologias. Por outro lado, pode ser uma ferramenta que potencializa a polarização e amplifica narrativas antidemocráticas. De todo modo, a popularidade dessa mídia social é um fator que reforça a necessidade de compreender as interações e discursos presentes na comunicação política online.
Com relação aos dados utilizados na pesquisa, o escopo inclui 436 dos 513 deputados federais e 78 dos 81 senadores, recuperando todos os tweets postados em suas contas em 2019 – um total de 438.082. A partir desse total, foram separados para análise apenas os replies, e excluídas mensagens não-direcionadas e threads. Assim, sobraram 20.076 replies. Os autores realizaram ainda uma análise de conteúdo qualitativa exploratória a partir de respostas mais relevantes (quantidade de curtidas e retweets), para identificar tópicos e formatos das mensagens.
Entre as categorias em relação ao formato das mensagens, o estudo indica: atacar ou criticar adversários; defender e endossar aliados; informar o público e divulgar crenças. Do ponto de vista dos partidos políticos mais ativos no Twitter, o PSL representava 43,67% do total, enquanto que partidos de esquerda representavam 26,67% (PT = 15,29%; PSOL = 11,36%). Os dados indicam que o PSL teve um papel mais determinante do ponto de vista das interações.
O artigo sinaliza que, mesmo que alguns políticos sejam mais ativos no Twitter – garantindo maior visibilidade na esfera pública online – outros têm um papel mais importante, por assim dizer, devido à promoção de interações mais frequentes e diversas. Embora os partidos de esquerda fossem mais presentes no ambiente online para mobilizar o público, os partidos de direita têm mais seguidores e mais apoio público (mais curtidas e retweets).
Para os autores, esses dados ajudam a explicar a estrutura discursiva do populismo – ainda que o artigo não tenha se aprofundado nas relações entre discurso político e redes sociais digitais -, além de mostrar uma estratégia de comunicação particular ligada à campanha presidencial de Bolsonaro.
Referência
García-Sánchez, E., Gómez-Nieto, E., Benetti, P., Higa, G., & Alvarez, M. C. (in press). Political Discourses, Ideologies and Online Coalitions in the Brazilian Congress on Twitter during 2019. New Media & Society, 2021.
* Doutoranda em Comunicação pela Universidade Federal do Paraná (UFPR) e jornalista da E-Paraná Comunicação.
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