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Para a desinformação, todas as maçãs são podres

Jacob Turner*

Após a invenção e propagação do termo “fake news”, há muito debate nos meios de comunicação sobre as causas e efeitos da desinformação e quais são as melhores estratégias para combatê-la. Jim Macnamara, no seu artigo “Challenging Post-Communication: Beyond Focus on a ‘Few Bad Apples’”, apresenta os resultados de 30 entrevistas com profissionais de relações públicas e de análises de conteúdo dos artigos acadêmicos mais influentes para estudar o mundo da desinformação. O estudo demonstra que o problema é muito sério e que a culpa é de quase todos, incluindo pequenas empresas de relações públicas e um público que não consume mídia de uma maneira crítica. O artigo afirma que precisamos de políticas a vários níveis, incluindo regulamentação da mídia e uma educação melhor para o leitor.

O artigo responde a quatro perguntas:

Primeiro: qual a extensão do problema? Em outras palavras, a desinformação e estratégias manipuladoras são problemas novos ou versões modernas de fenômenos velhos?

Segundo: a tecnologia vai resolver ou piorar o problema? Novas tecnologias como a inteligência artificial, bots e algoritmos avançados são comuns e poderosas hoje, mas não se sabe se têm efeito positivo ou negativo.

Terceiro: quem é o culpado pelo problema da desinformação? Existem três doutrinas para responder esta pregunta: a doutrina da bondade humana, da depravação total, e da depravação seletiva. Podemos culpar poucos indivíduos e organizações (depravação seletiva) ou o problema é mais generalizado?

Finalmente: o que deveria ser feito e por quem? Embora reconheçamos a existência do problema da desinformação, não fica claro qual é a solução. Os governos nacionais deveriam regular a mídia de uma maneira mais rigorosa (top-down) ou a solução é educar o consumidor (bottom-up)?

O autor realiza duas pesquisas. Em uma, faz uma análise de conteúdo de artigos e relatórios mencionando comunicação, marketing, campanhas eleitorais, relações públicas, entre outras palavras-chave. Em outra etapa, entrevista 30 profissionais de empresas de relações públicas, perguntando quais sãos as questões mais importantes, suas maiores preocupações e também como solucioná-las.

De acordo com Macnamara, as conclusões do texto não são muito surpreendentes, mas têm implicações importantes. A primeira conclusão é que a desinformação é realmente um problema grande, e a culpa desse problema é de vários atores. Empresas como Facebook e Cambridge Analytica são mais conhecidas, mas empresas menores também usam métodos de desinformação. Outra conclusão é que o ambiente mediático não vai mudar rapidamente. As mudanças necessárias serão lentas e graduais.

Por essas conclusões, a solução que o autor propõe é multinível. Macnamara sugere que precisamos de políticas top-down de regulamentação para diminuir a desinformação, assim como de programas de educação midiática para os leitores. Enquanto as conclusões do artigo não surpreendem, os dados das entrevistas mostram que os profissionais de comunicação são bem conscientes da desinformação e o papel que desempenham na criação do problema. É um artigo importante e útil para acadêmicos e políticos com objetivo de entender e diminuir a desinformação e o seus efeitos negativos.

Macnamara, J. (2021). Challenging post-communication: Beyond focus on a ‘few bad apples’ to multi-level public communication reform. Communication Research and Practice, 7(1), 35-55.

* Doutorando e mestre em Ciência Política pela University of Notre Dame. Membro do Grupo de Pesquisa em Comunicação, Política e Tecnologia (PONTE/UFPR). Afiliado de doutorado do Instituto Kellogg (Notre Dame). Bolsista Fulbright.

As opiniões expressas pela(o)s autora(e)s pertencem a ela(e)s e não refletem necessariamente a opinião do Grupo de Pesquisa e nem de seus integrantes.

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