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Mudança nos processos de controle de informação dos jornais: O caso das redes sociais

Por Alessa Coelho Lauriano*

De acordo com pesquisa apresentada pela Comscore Brasil (2023), empresa responsável por mensuração digital, o Brasil ocupou o 3º lugar do país que mais consumiu redes sociais em dezembro de 2022, comparado com Índia, Indonésia, Estados Unidos, México, Argentina, Itália, Reino Unido, França e Espanha. Além disso, neste mesmo mês, eles constataram que as plataformas mais utilizadas foram Youtube, Facebook e Instagram.

Os meios para se ter acesso a uma notícia foram mudando progressivamente, como por exemplo, o uso dos jornais impressos, rádios e televisões. Notoriamente, este uso massivo das redes sociais no Brasil também afetou os jornalistas, que tiveram que se adaptar às redes sociais. Isso ocasionou mudanças nas normas e práticas jornalísticas. Surgem então os questionamentos: como eles estão utilizando este lugar para o compartilhamento de conteúdo de notícias?  Além disso, quais mudanças marcaram o uso destas novas ferramentas?

Essas questões vão ser discutidas e apresentadas por Walters (2022), no artigo intitulado “Reclaiming Control: How Journalists Embrace Social Media Logics While Defending Journalistic Values”. Este trabalho possui grande relevância porque busca entender como os jornalistas passam a utilizar o espaço das redes sociais nos Estados Unidos. O envolvimento do público, por exemplo, ganha mais espaço. O autor aplica desenvolve sua análise com base na teoria do Gatekeeping. O pesquisador realizou 16 entrevistas qualitativas semiestruturadas com jornalistas, que participavam diretamente dos processos de tomada de decisões sobre o compartilhamento de conteúdo nas redes sociais.

Na seção “autoridade de controle”, o autor apresenta com mais clareza sobre o porquê da utilização da teoria de Gatekeeping, apresentando que ela parte de outros dois conceitos, seleção e controle. Em português, de acordo com o tradutor online DeepL, a palavra pode ser definida como “controle de acesso, guardião, porteiro”. Ou seja, aquele responsável por definir o que será publicado ou não. As redes sociais vão ampliar e dificultar esse processo.  

Por isso, existe um exercício das organizações de notícia de tentar manter este controle sobre as informações, “(…) os jornalistas enfrentam questões sobre como e de que forma compartilharão o conteúdo nas redes sociais.” (WALTERS, 2022, p.5, tradução Deepl). Do mesmo modo, também é apresentado a atenção exclusiva que é dada para o compartilhamento das notícias em cada rede social, a depender do público. Um grande definidor nessas plataformas, são os algoritmos, códigos que mudam a forma/frequência que as notícias chegam aos usuários.

Com isso, os internautas se tornaram um dos principais focos nessa era das redes sociais. Ao realizar as análises das entrevistas, Walters aponta que foi perceptível uma clara mudança na relação entre os jornalistas e as plataformas. De certo modo, as organizações de notícias vão se tornando cada vez mais dependentes e reféns. Outra tendência localizada nas respostas, foi defender os “valores tradicionais jornalísticos”.

No cotidiano, quantas vezes você não abriu uma notícia em um site de jornal e sua leitura foi interrompida por uma janela avisando que você não era assinante? Pois bem, Walters aponta um destaque nas respostas no aumento de uso de paywalls. Isso permite um controle maior e uma restrição sobre o conteúdo a ser apresentado. Ademais, pode-se observar o quanto as métricas também estão influenciando os jornalistas no momento de tomada de decisões, como por exemplo, as interações do público, horários de maior adesão e quais postagens recebem mais cliques. Desta forma, essa foi uma nova estratégia utilizada, sendo determinante para determinar o “valor de uma notícia”.

Por fim, Walters conclui que o controle de seleção de quais matérias publicar ainda se mantêm, com a adição de selecionar as plataformas e o momento ideal. Conforme aqui explorado, uma das tentativas de conseguir controlar de forma mais eficaz o conteúdo foi por meio da adesão de paywalls, dando ênfase aos seus sites de notícia. Na análise das entrevistas, foi possível constatar que os jornais dos Estados Unidos,  mesmo defendendo os “valores tradicionais”, ainda assim aderem aos recursos de métricas e algoritmos existentes nas plataformas. O debate se faz necessário para discutirmos o impacto da presença das redes sociais arraigadas em nosso cotidiano e que, consequentemente, afeta as organizações de notícias.

Referências

WALTERS, Patrick. Reclaiming Control: How Journalists Embrace Social Media Logics While Defending Journalistic Values. Digital Journalism, 2022, 1482-1501.

COMSCORE BRASIL. Tendências de Social Media 2023.

*Alessa Coelho Lauriano é estudante da Graduação em Ciências Sociais na Universidade Federal do Paraná, na Linha de Formação em Ciência Política. Atua como bolsista do Programa de Educação Tutorial (PET). É pesquisadora voluntária do Programa de Iniciação Científica da UFPR. Lattes:  http://lattes.cnpq.br/7695080090649458. E-mail: Lauriano.alessa1@gmail.com

As opiniões expressas pela(o)s autora(e)s pertencem a ela(e)s e não refletem necessariamente a opinião do Grupo de Pesquisa e nem de seus integrantes.

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