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Da opinião pública às pesquisas e aos debates: os efeitos da comunicação política e suas teorias

Por Diogo Rodrigues Manassés*

Este texto tem por objeto central três verbetes da “The International Encyclopedia of Political Communication” (editada por Gianpietro Mazzoleni). O primeiro é sobre opinião pública (“Public Opinion”) e foi escrito por Patricia Moy e Courtney N. Johnson. O segundo, cuja autoria é de Wolfgang Donsbach, se refere a pesquisas de opinião pública (“Public Opinion Polls”). Escrito por William L. Benoit, o terceiro verbete trata de debates de eleições políticas (“Political Election Debates”).

A ideia de opinião pública pode ser abordada a partir de diferentes perspectivas. Por exemplo, em olhar informacional, de inspiração habermasiana, trata-se do fenômeno da exposição das pessoas, informada e racional, às ideias que circulam na esfera pública; do ponto de vista do controle social, trata-se de um método de coesão social pelo qual o público adota as visões dominantes na imprensa (GLYNN; HUGE, 2008). A própria expressão “opinião pública” pode soar, à primeira vista, contraditória: como pode a opinião, que é algo supostamente individual, ser pública?

Não é sem razão que Silveirinha (2004) aponta a inexistência de uma definição consensual na literatura. A autora entende que falar em opinião pública geralmente implica falar na soma das opiniões ou do que sondagens indicam como opiniões, porém melhor que fornecer um conceito é estudar sua importância e suas variadas dimensões. Diante da miríade de abordagens sobre o tema na literatura, na ótica da comunicação política, o foco está não apenas no conteúdo da opinião pública sobre algo, mas também a maneira como ela foi formada.

Adentrando no primeiro verbete, Moy e Johnson (2016) afirmam que, independentemente das vicissitudes sociais, a comunicação permanecerá influenciando a opinião pública. É por isso que seu texto é focado na influência (ou nos efeitos) da mídia na opinião pública, o que implica abordar, inicialmente, três teorias: agenda-setting, framing e espiral do silêncio.

Agenda-setting designa o fenômeno pelo qual os veículos de comunicação atribuem importância a determinados temas em detrimento (ou favor) de outros, estabelecendo a agenda e fazendo com que o público incorpore a importância atribuída. Assim, a percepção geral sobre o quão relevante é um assunto é orientada pela mídia. Além disso, em um segundo nível, o attribute agenda-setting, o foco está em características específicas de um tema e, sobretudo, como tais características reverberam na opinião pública concernente a esse tema.

Por sua vez, o framing é o enquadramento dado a determinado assunto através do modo como ele é comunicado, podendo ser encarado tanto como processo quanto como produto. No primeiro caso, subdivide-se em frame-building (construção do quadro) e frame-setting (interação e recepção do quadro pela audiência). Pela teoria da espiral do silêncio, elaborada por Noelle-Neumann em 1974, há uma relação entre a percepção individual da opinião pública sobre uma matéria e a disposição pessoal de expressar a própria visão sobre essa matéria. Sem olvidar das críticas que a autora recebeu, segundo ela, se as pessoas, por considerarem sua opinião minoritária, deixarem de se manifestar, o silêncio fará majoritária a outra opinião.

Ainda sobre percepções de opinião, as autoras mencionam outros assuntos, destacando-se as manifestações em contextos eleitorais, como é o caso das pesquisas de opinião. Assim como os experimentos e a análise de conteúdo, as pesquisas de opinião são metodologias para se extrair a opinião pública e constituem o tema do segundo verbete.

Donsbach (2016, p. 1) as define como um “método de pesquisa social usado para medir a opinião dos cidadãos através de entrevistas com amostras representativas de toda a população”. Tratando-se de pesquisas, é importante a padronização; além disso, quanto maior a amostragem, mais próximo o resultado final da resposta que toda a população teria dado. Após estabelecer um retrospecto histórico, o autor expõe os debates sobre a validade das pesquisas, que começam pela controvérsia conceitual (como pode a opinião ser pública?) e seguem no questionamento da sua aptidão para extrair respostas sinceras.

A propósito, abandonou-se a visão ingênua de que as pessoas têm opinião formada sobre todos os assuntos, de modo que a referência passou a ser a hipótese cognitivista de que as respostas não são preexistentes, mas criadas por aqueles que respondem às pesquisas. Outras críticas se referem às previsões eleitorais, considerando a volatilidade da opinião do eleitor, os possíveis erros metodológicos e os desafios das novas tecnologias.

Quanto ao público, as pesquisas têm dimensões cognitivas, afetivas e conativas – a terceira envolve a redução da disposição a entrevistas e os efeitos comportamentais do público após divulgadas as pesquisas (inclusive em aspectos jurídicos e democráticos). Para além das eleições, os políticos são taxados de populistas por alguns estudiosos quando seguem as pesquisas para aumentar sua chance de reeleição, conclusão da qual Donsbach discorda.

O autor menciona também os efeitos da divulgação das pesquisas perante o público: bandwagon (eleitores indecisos decidem votar em quem lidera), underdog (decidem votar em quem, segundo as pesquisas, perderá), lethargy (deixam de votar porque seu candidato lidera) e defeatism (deixam de votar porque seu candidato perderá). Segundo ele, se é verdade que não há comprovação inequívoca de tais efeitos, não é menos verdade que existem indícios veementes que eles ocorrem, indícios que conduzem a perigos à democracia. Em um olhar libertário, Donsbach defende a ampla e ilimitada divulgação das pesquisas, minimizando tais indícios e os riscos envolvidos.

Na sua primeira parte, o verbete de Benoit (2016) mescla a importância dos debates no cenário eleitoral e seu avanço histórico, com ênfase, contudo, na cultura estadunidense. Em geral, quem assiste a um debate ratifica seu pensamento pretérito. Na segunda parte do texto, o autor usa como premissa uma meta-análise de seu trabalho anterior em coautoria com Hansen e Verser (2003) para demonstrar a confirmação da três teorias. De acordo com a teoria funcional do discurso de campanha política, de Benoit, o discurso das campanhas eleitorais pode ser de elogio, ataque ou defesa, direcionado a políticas ou ao candidato. Pela teoria da propriedade dos problemas, de Petrocik, candidatos de cada partido dos EUA dirigem suas falas no debate em favor da área cuja reputação do partido é sabidamente boa.

Já segundo a teoria do federalismo funcional, de Peterson, a divisão federativa do Estado reflete no recorte de conteúdo do candidato. O que faz Benoit é, então, usar os dados da meta-análise para demonstrar que as três teorias têm fundamento em dados empíricos e podem ser estendidas a outros países que não os EUA. Teria sido enriquecedor ao texto, porém, relacionar os debates à americanização da política, dado que o modelo estadunidense de debates eleitorais é muitas vezes exportado.

A despeito das ferramentas que clarificam a opinião pública, como as pesquisas e os debates, Moy e Johnson (2016) apontam a existência de estudos demonstrando a prevalência de percepções imprecisas da realidade social. A ignorância pluralística é a hipótese da ocorrência de conclusões equivocadas, extraídas pela coletividade, relativamente à própria coletividade. É o que se dá quando há uma pluralidade de alunos na qual cada um acredita, isoladamente, ser o único a não compreender a matéria explanada em sala de aula em razão da inexistência de questionamentos.

Pelo falso consenso, os indivíduos compreendem que há uma consonância de visões entre si e os demais quando, na verdade, a dissonância é maior que a imaginada. É o caso em que as condutas pessoais são tomadas como parâmetro para julgar as atitudes dos outros. A terceira percepção imprecisa, conhecida como efeito da terceira pessoa, é o caso em que um indivíduo presume que os demais (terceiros) são mais vulneráveis aos efeitos da mídia de massa do que ele próprio.

Ainda há muito explorar sobre a relação entre comunicação política, mídia e opinião pública. Como visto, se uma pesquisa eleitoral divulgada pode impulsionar os indecisos em favor de quem lidera (bandwagon effect), que revela a mídia influenciando a opinião pública, a notoriedade de um partido em determinada área pode levar um candidato a preferir tratar dessa área em um debate (teoria da propriedade dos problemas), caso da opinião pública influenciando a comunicação política. É a partir de teorias como essa que podem ser realizados estudos empíricos, confirmando-as ou não e aprofundando a compreensão desse contexto mais amplo.

Referências principais

BENOIT, W. L. Political Election Debates. In: MAZZOLENI, G. (Ed.). The International Encyclopedia of Political Communication. [S. l.]: Wiley, 2016. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1002/9781118541555.wbiepc127. p. 1-10.

DONSBACH, W. Public Opinion Polls. In: MAZZOLENI, G. (Ed.). The International Encyclopedia of Political Communication. [S. l.]: Wiley, 2016. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1002/9781118541555.wbiepc113. p. 1-11.

MOY, P.; JOHNSON, C. N. Public Opinion. In: MAZZOLENI, G. (Ed.). The International Encyclopedia of Political Communication. [S. l.]: Wiley, 2016. Disponível em: http://dx.doi.org/10.1002/9781118541555.wbiepc230. p. 1-17.

Referências complementares

GLYNN, C. J.; HUGE, M. E. Public Opinion. In: DONSBACH, W. (Ed.). The International Encyclopedia of Communication. Malden, USA: Blackwell Publishing, 2008. p. 3971-3977.

BENOIT, W. L.; HANSEN, G. J.; VERSER, R. M. A meta-analysis of the effects of viewing US presidential debates. Communication Monographs, v. 70, p. 335-350, 2003.

SILVEIRINHA, M. J. Opinião pública. In: RUBIM, A. A. C. (Org.). Comunicação e política: conceitos e abordagens. Salvador: Edufba, 2004. p. 409-449.

* Diogo Rodrigues Manassés é Mestre em Filosofia pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), na linha de Ética e Filosofia Política, e Bacharel em Direito pela mesma instituição. Lattes: http://lattes.cnpq.br/2919893550114050.

As opiniões expressas pela(o)s autora(e)s pertencem a ela(e)s e não refletem necessariamente a opinião do Grupo de Pesquisa e nem de seus integrantes.

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