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Análise de conjuntura política: orientações e contribuições

Por Miriã dos Santos*

A análise de conjuntura é algo presente na realidade dos cientistas políticos. Qualquer um que esteja familiarizado com a área da Ciência Política pode reforçar essa afirmação, mas isso não exclui a possibilidade de não saberem exatamente como realizar uma análise de conjuntura e de possuírem um conhecimento limitado do que ela realmente trata.

Afinal, ouve-se muito o uso do termo “análise de conjuntura” para diversos casos e situações e, portanto, não se deve negligenciar o seu grau de sujeição ao erro. Existem diversos autores que se atentam às complexidades da análise de conjuntura e de como ela deve ser feita − Fornazieri (2014) e Vieira (2015) estão entre eles.  

Fornazieri (2014) procura orientar e atentar o analista às formas existentes de se fazer uma análise de conjuntura política por meio de avaliações mais específicas dos pilares da discussão e, principalmente, dos atores que influenciam o tema. Vieira (2015) frisa a justificativa de como a análise de conjuntura precisa estar entrelaçada, de maneira adequada e satisfatória, com a História para que haja uma análise de conjuntura completa.

Fornazieri (2014) também discute como não existe um método amplamente definido acerca da forma de se fazer uma análise de conjuntura e de como aqueles que se propõem a estudar o tema não devem esquecer da pluralidade das perspectivas teóricas e de caráter metodológico possíveis. Ademais, o autor reforça como “as análises de conjunturas além de serem plurais, também são quase sempre parciais” (FORNAZIERI, 2014, p. 3) e de como é necessário considerar os dois ângulos daquilo que se deseja analisar para que seja possível uma visão mais abrangente sobre o assunto.

O autor tem uma preocupação em conceituar e até relembrar as definições dos atores da análise de conjuntura política sobre instituições − a exemplo do Estado, o judiciário, partidos políticos, religiões. Ainda de acordo com o pesquisador, essas são as principais causas das análises de conjunturas serem pluralistas (FORNAZIERI, 2014).

É importante destacar como “a conjuntura caracteriza-se como um conjunto de acontecimentos encadeados, os quais explicam o processo histórico diretamente relacionado ao fato histórico” (VIEIRA, 2015, p. 17), sendo que “[…] a análise de conjuntura não pode ser vista como um retrato técnico ou científico da realidade, mas que ela é uma aproximação analítica ou um olhar sobre a mesma” (FORNAZIERI, 2014, p. 4).

Outro ponto relevante a se considerar na análise de conjuntura política é que ela não deve partir da teoria política, mas, sim, da prática política (FORNAZIERI, 2014). Contudo, a análise teórica pode servir de auxílio se for para contribuir para o esclarecimento de um problema político conjuntural (FORNAZIERI, 2014). Ou seja, apesar da necessidade de conhecer a prática política para realizar a análise de conjuntura política, o analista ainda precisa apresentar domínio e compreensão da teoria para que saiba utilizá-la quando necessária. O analista precisa ainda identificar se a conjuntura escolhida possui uma característica dominante no quesito econômico, político, cultural ou de uma outra natureza, e também precisa delimitar o fato ou situação que deseja analisar, pois é o recorte que será o seu objeto de estudo (VIEIRA, 2015; FORNAZIERI, 2014).

É de conhecimento daqueles que estudam sobre a análise de conjuntura que não é possível realizar uma sem que haja entendimentos acerca da estrutura que a engloba. De acordo com Fornazieri (2014, p. 12), “a análise de distribuição das estruturas deve levar em conta as determinações internacionais, nacionais, regionais, locais e as relações e interações dessas determinações”. Pois, por exemplo, se há algo movimentando a política ou a economia nos EUA é bem provável que os resultados lá obtidos possam influenciar alguma conjuntura no Brasil.

Portanto, não se pode apenas considerar uma visão micro da estrutura vigente porque “[…] a análise de conjuntura pode levar à necessidade de uma análise de estruturas históricas” (VIEIRA, 2015, p. 18). Em suma, Vieira (2015) foca nas estruturas históricas, orientando o analista a direcionar atenção a todos os marcos históricos possíveis da conjuntura que se deve analisar, pois cada ponto na linha do tempo significa uma estrutura recheada de particularidades que pode auxiliar em uma percepção mais global da realidade social.

A análise de conjuntura não é algo simples, de fácil e rápida realização. Os dois textos aqui discutidos mostram como o analista precisa dispor de atenção, comprometimento, estudo e interdisciplinaridade. Pois a própria análise de conjuntura é recheada de interdisciplinaridade, e, ao trabalhar com dados, teorias e situações familiarizadas ainda requer dedicação para se obter um bom desempenho naquilo em que se está trabalhando. Além disso, lidar com contribuições analíticas de demais áreas significa um desafio a quem deseja se tornar um analista de conjuntura.

Embora as contribuições de Fornazieri (2014) sejam mais explícitas à Ciência Política, os apontamentos de Vieira (2015) já apresentados também são importantes para a área. Afinal, embora a História seja uma área do conhecimento que pode ser relacionada com as Ciências Sociais, possui metodologias próprias e outras particularidades que demandam esforço de compreensão.

A revisão dos métodos para a elaboração da análise de conjuntura é indispensável. É provável que novos elementos sejam inseridos no debate e os que já são utilizados sejam reavaliados. Portanto, os analistas devem sempre estar consultando novas discussões acerca do tema para que haja uma análise de conjuntura mais sólida e precisa.

REFERÊNCIAS

VIEIRA, Rosângela de Lima. Como fazer ‘análise de conjuntura’ numa abordagem histórica. In: CORSI, Francisco Luiz; CAMARGO, José Marangoni; SANTOS, Agnaldo dos. (Orgs.). A conjuntura econômica e política brasileira e argentina. São Paulo: Cultura Acadêmica, 2015, p. 15-24.

FORNAZIERI, Aldo. O que é análise de conjuntura política. In: OLIVEIRA, Flávio Rocha de; MARQUES, Moisés da Silva. (Orgs.). Introdução ao risco político: conceitos, análises e problemas. 1. Ed. Rio de Janeiro: Elsevier Editora, 2014, p. 01-39.

* Miriã dos Santos é graduanda em Ciências Sociais e participante do Laboratório de Partidos e Sistemas Políticos (LAPeS).

As opiniões expressas pela(o)s autora(e)s pertencem a ela(e)s e não refletem necessariamente a opinião do Grupo de Pesquisa e nem de seus integrantes.

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