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Buscando um olhar econômico para o jornalismo caça-clique

Por Paulo Ferracioli*

A lógica econômica central do artigo é de que existe extrema facilidade de novos competidores ingressarem no mercado de comunicação na era das redes sociais, pois não há necessidade de estabelecer uma credibilidade

Título do artigo comentado: All the News That’s Fit to Click: The Economics of Clickbait Media

Autor do artigo comentado: Kevin Munger

A que questão de pesquisa o texto responde? 

O artigo busca descobrir, a partir de uma ótica econômica, como as mídias sociais afetaram a prática jornalística e permitiram a proliferação de fake news. 

Por qual motivo esse texto é relevante?

Os estudos em comunicação, seja no Brasil (GOMES; DOURADO, 2019; MIGUEL, 2019; ROXO; MELO, 2018) ou ao redor do mundo (CARLSON, 2020; TANDOC; JENKINS; CRAFT, 2019; WAISBORD, 2018), já buscam há algum tempo compreender porque a difusão de fake news se tornou tão volumosa e teve potencial de interferir em eleições até mesmo de países considerados democracias consolidadas.

Contudo, esse artigo traz uma inovação ao buscar uma explicação para o fenômeno a partir de uma interpretação da área econômica. Assim, o autor descreve os incentivos econômicos que levam à economia do clickbait, os relacionando à compreensão que a ciência política e a comunicação formulam sobre o tema.

Resumo da pesquisa:

A investigação realizada pelo autor não é empírica. Assim, no percurso ensaístico, o artigo apresenta seus argumentos de maneira a convencer o leitor de que sua tese é plausível, embora ainda não tenha sido testada. É apresentada uma breve contextualização histórica cujo objetivo é demonstrar que o período do século XX em que a TV predominou como meio de comunicação mais relevante foi uma anomalia, porque havia um alto custo para ingressar nesse mercado e considerável regulação sobre o tema. No restante da história da comunicação, o mercado poderia ser classificado como disputado (contestable market, no termo original em inglês).

Assim, são destacados alguns pontos atuais do cenário do Jornalismo por meio de redes sociais que o encaixam nessa moldura econômica. A competição ocorre não só entre empresas existentes, mas também por meio do receio da entrada potencial de novos competidores, já que não há barreiras sólidas a impedir. A tecnologia necessária não é compartilhada apenas por aqueles agentes que já atuam, bem como não existem investimentos de alto valor que não possam ser recuperados. Isso está presente em certa medida no que é denominado pelo autor de mídia clickbait.

Em razão dessa facilidade entrar e sair do mercado, os novos agentes não se preocupam com a consolidação da sua credibilidade, que era um requisito até então essencial para uma empresa de comunicação que pretendesse conquistar um lugar junto ao público. A credibilidade desses atores opera em uma lógica cascata: as recomendações por usuários das redes sociais levam outros leitores a confiarem no texto por ter sido compartilhado por aqueles que seguiam e leva à perpetuação dessa lógica, na qual pouco importa a solidez da empresa midiática e sim sua capacidade de gerar artigos que gerem interações nas redes sociais.

Conclusões principais do texto:

A lógica econômica central do artigo é de que existe extrema facilidade de novos competidores ingressarem no mercado de comunicação na era das redes sociais, pois não há necessidade de estabelecer uma credibilidade, visto que ela é oriunda da capacidade dos textos de repercutirem entre os usuários da rede.

Sem que tenha testado essas premissas em algum caso concreto, o texto não é capaz de apontar com qual intensidade esse fenômeno pode ser encontrado. O autor destaca inclusive que essa formulação foi pensada para o contexto norte-americano, podendo existir diferenças visíveis em outros sistemas midiáticos, especialmente quanto à regulação do mercado.

Ainda é mencionado pelo autor que esse mercado de notícias precisaria de regulação diversa do padrão econômico tradicional, porque se trata de um produto que não é usual. Assim, em linha com que outros pesquisadores já buscaram esboçar (CHENG; CHEN, 2020; FLEW; MARTIN; SUZOR, 2019), o artigo avalia riscos e benefícios da regulação das mídias sociais.

Além disso, também é apontado como um aumento na familiaridade e conhecimento do público sobre a utilização das redes sociais reduziria a cascata de credibilidade sobre o qual esses sites predatórios de fake news se baseiam e tornariam menos vantajosa economicamente a abertura e manutenção dessas empresas de comunicação cujo material não respeita os padrões jornalísticos tradicionais.

REFERÊNCIA PRINCIPAL

MUNGER, Kevin. All the News That’s Fit to Click: The Economics of Clickbait Media. Political Communication, v. 37, n. 3, p. 376–397, 2020.

REFERÊNCIAS COMPLEMENTARES

CARLSON, Matt. Fake news as an informational moral panic: the symbolic deviancy of social media during the 2016 US presidential election. Information, Communication & Society, v. 23, n. 3, p. 374–388, 2020.

CHENG, Yang; CHEN, Zifei Fay. The Influence of Presumed Fake News Influence: Examining Public Support for Corporate Corrective Response, Media Literacy Interventions, and Governmental Regulation. Mass Communication and Society, v. 23, n. 5, p. 705–729, 2020.

FLEW, Terry; MARTIN, Fiona; SUZOR, Nicolas. Internet regulation as media policy: Rethinking the question of digital communication platform governance. Journal of Digital Media & Policy, v. 10, n. 1, p. 33–50, 2019.

GOMES, Wilson; DOURADO, Tatiana Maria. Fake news, um fenômeno de comunicação política entre jornalismo, política e democracia. Estudos em Jornalismo e Mídia, v. 16, n. 2, 2019.

MIGUEL, Luis Felipe. Jornalismo, polarização política e a querela das fake news. Estudos em Jornalismo e Mídia, v. 16, n. 2, 2019.

ROXO, Marco Antonio; MELO, Seane. Hiperjornalismo: Uma visada sobre fake news a partir da autoridade jornalística. Revista FAMECOS, v. 25, n. 3, p. 30572, 2018.

TANDOC, Edson C.; JENKINS, Joy; CRAFT, Stephanie. Fake News as a Critical Incident in Journalism. Journalism Practice, v. 13, n. 6, p. 673–689, 2019.

WAISBORD, Silvio. Truth is What Happens to News. Journalism Studies, v. 19, n. 13, p. 1866–1878, 2018.

* Doutor em Ciência Política pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Mestre em Comunicação pela mesma instituição. Jornalista e advogado. Pesquisador do PONTE.

**Texto discutido em reunião do PONTE. Para conhecer outras referências selecionadas pelo Grupo, acesse a aba LEITURAS.

As opiniões expressas pela(o)s autora(e)s pertencem a ela(e)s e não refletem necessariamente a opinião do Grupo de Pesquisa e nem de seus integrantes.

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