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Viés da mídia e ação política: se a imprensa é parcial, como reagimos politicamente a isso?

Por Naiza Comel*

Título do artigo comentado: Comparative Corrective Action: Perceived Media Bias and Political Action in 17 Countries

Autores/as do artigo comentado: Matthew Barnidge, Hernando Rojas, Paul A. Beck, Rüdiger Schmitt-Beck

A que questão de pesquisa o texto responde?

Os autores partem da ideia de ação corretiva (de que as pessoas tomarão medidas políticas em resposta ao conteúdo da mídia que percebem ser contra seu grupo ou ao que acreditam) para avaliar se isso se dá em 17 países. Assim, de forma geral, eles procuram responder às seguintes questões: o viés percebido da mídia modifica a participação política nestes países? Há a possibilidade de que a liberdade de imprensa modere as relações previstas pela ação corretiva?

Por qual motivo esse texto é relevante?

Ainda que a literatura sobre o viés percebido da mídia e a percepção de mídia hostil já apresente grandes colaborações (a exemplo da revisão de literatura apresentada no artigo), o estudo aqui citado relaciona a percepção às nossas ações políticas. Essa mudança de perspectiva permite não apenas pesquisar a sensação de viés, mas destaca a resposta do público ao conteúdo da mídia. Mesmo que os autores se concentrem em questões eleitorais (como o voto e a colaboração em campanhas), demonstram a importância do ambiente midiático para a participação – o que permite embasamento, inclusive, para novas investigações.

Resumo da pesquisa:

Barnidge et al. (2020) constroem seu argumento com base em três conceitos centrais: viés percebido da mídia, ação corretiva e participação política. O primeiro é bem próximo do que podemos perceber no dia a dia: é possível que, ao ler a mesma reportagem, pessoas de espectros políticos diferentes entendam que o outro lado está sendo privilegiado. Portanto, a mídia é considerada tendenciosa pelos dois.

Já a ação corretiva transforma essa percepção em atitude. Nas palavras dos autores: “Na medida em que as pessoas acreditam que a mídia é tendenciosa e influente, elas tentarão se opor ao que percebem ser os efeitos negativos da mídia, engajando-se em ações políticas” (Barnidge et al., 2020, p. 733).

Com relação à participação política, os pesquisadores abordam o voto e outras formas de participação – caso de trabalhar ou fazer doação para uma campanha. Neste ponto, é importante apontar que eles tratam no artigo apenas da participação offline. De acordo com os pesquisadores, porque entre os países estudados há alguns com pouca penetração da internet.

Vale citar fatores que, ainda segundo os pesquisadores, devem ser considerados para o estudo da ação corretiva, apesar de não serem testados efetivamente no estudo. O que eles explicam é que paralelismo político, ideologia da mídia e concentração da mídia são “pano de fundo” para as análises. O que ganha destaque efetivamente nas análises, realizadas a partir de modelagem multinível, é a liberdade de imprensa.

Assim, a partir de dados do Comparative National Election Project e da construção de um índice de liberdade de imprensa (combinando informações do Freedom House e do Varieties of Democracy), foram construídas duas hipóteses e duas questões de pesquisa – apresentadas com seus resultados no próximo tópico.

Conclusões principais do texto:

As questões de pesquisa elaboradas buscavam relacionar a liberdade de imprensa nos 17 países pesquisados com a participação por meio do voto e outras formas de participação. Assim:

RQ1: A liberdade de imprensa moderará a relação entre a percepção do viés da mídia e o voto?

RQ2: A liberdade de imprensa moderará a relação entre o viés da mídia percebido e a participação política?

As análises de Barnidge et al. (2020) demonstram que há uma relação positiva entre o viés da mídia e o voto e ela é mais forte em países com níveis mais altos de liberdade de imprensa. Já a relação entre a liberdade de imprensa e outras formas de participação política não foi identificada. 

A diferença entre os países aparece também claramente nos resultados de testagem das hipóteses. A H1 afirmava que “o viés da mídia percebido será positivamente relacionado à votação” e isso foi confirmado em 10 dos 17 países pesquisados.

A H2 trazia que “o viés da mídia percebido estará positivamente relacionado à participação política”. E os resultados indicam: relações positivas em 10 países, relações negativas em 3 países e 4 países sem registro de ligações. Essas diferenças, argumentam os autores, ocorrem pelos contextos nacionais de sistemas de mídia e sistemas políticos.

De forma resumida, então, as principais conclusões mostram que: 1) Há evidências de uma relação geral entre viés percebido da mídia e ação política; 2) Essa relação tem variações de força entre os países; 3) A liberdade de imprensa explica parcialmente a existência das ações corretivas.

Referência completa do artigo comentado: BARNIDGE, Matthew; ROJAS, Hernando; BECK, Paul; SCHMITT-BECK, Rüdiger. Comparative Corrective Action: Perceived Media Bias and Political Action in 17 Countries, International Journal of Public Opinion Research, v.32, n.4, p. 732-749, 2020.

* Doutoranda e mestre em Comunicação pela Universidade Federal do Paraná – UFPR. Atua na linha de pesquisa Comunicação e Política e integra o Grupo de Pesquisa em Comunicação, Política e Tecnologia (PONTE) desde 2019. É graduada em jornalismo e possui especializações em Comunicação e Novas tendências Midiáticas e em Gestão em Comunicação Empresarial.

**Texto discutido em reunião do PONTE. Para conhecer outras referências selecionadas pelo Grupo, acesse a aba LEITURAS.

As opiniões expressas pela(o)s autora(e)s pertencem a ela(e)s e não refletem necessariamente a opinião do Grupo de Pesquisa e nem de seus integrantes.

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