Panorama sobre polarização, plataformas digitais e desigualdades sociais: impactos na democracia
Por Náthaly Sarah da Veiga Costa*
Dos autores Daniel Kreiss e Shannon C. McGregor, professores da Escola Hussman de Jornalismo e Mídia e pesquisadores da Universidade da Carolina do Norte, o artigo “A review and provocation: On polarization and platforms” foi publicado na Revista New Media & Society e busca aprofundar a discussão sobre polarização e plataformas tecnológicas a partir dos estudos das desigualdades sociais. Segundo Kreiss e McGregor (2024), a polarização seria necessária no processo de construção da democracia e não algo negativo.
Nesse sentido, o texto está estruturado em três partes principais: i) panorama sobre plataformas e polarização; ii) literatura sobre polarização; iii) literatura sobre raça e justiça. Apresentando um panorama dos temas de “polarização”, “plataformas” e “desigualdades sociais”, relacionando essas questões ao impacto na democracia. O texto não apresenta uma questão de pesquisa claramente definida.
De acordo com autores, o movimento #BlackLivesMatter surgiu em 2013, após a morte de Trayvor Martin, e utilizou plataformas como Twitter e Facebook como ferramenta para divulgar o caso. O movimento ganhou ainda mais visibilidade em 2014, com a morte de Michael Brown e em 2020 com a morte de George Floyd. Segundo o artigo, essas plataformas serviram como ferramentas fundamentais para a mobilização e fortalecimento do poder de luta desses movimentos.
Primeiramente, a literatura define que a polarização é um conceito trata da “distância entre grupos em várias dimensões politicamente relevantes.” Dessa forma, existem quatro tipos de polarização: social, afetiva, moral e cultural. A polarização social está relacionada as distinções sociais, enquanto a polarização afetiva, corresponde as emoções positivas ou negativas de confiança ou desconfiança entre grupos externos. A polarização moral, refere-se às diferenças de valores e a polarização cultural, pode ser compreendida como “visão” distinta sobre o mundo.
Os autores afirmam que, ao discutir “polarização e plataformas”, o excesso de estudos focados no Twitter levou a uma má conceitualização dos conceitos de polarização “ideológica” e “afetiva”. Nesse contexto, as plataformas digitais oferecem espaços simbólicos de trocas sociais, apesar que parte da literatura tenda a “culpabilizar” essas plataformas pela polarização em vista da disponibilização de conteúdos algoritmicamente influentes na polarização entre diferentes grupos.
De acordo com Kreiss e McGregor (2024), isso resulta em investigações que se concentram apenas nos aspectos negativos da polarização e das plataformas para a democracia. Outro ponto destacado no artigo é que a polarização não é, necessariamente, algo ruim, mas sim o seu extremismo. Em especial, quando grupos antidemocráticos, como supremacistas brancos, promovem ideias contrárias aos princípios democráticos. Entretanto, movimentos pró-democráticos também podem gerar polarização. O artigo tese uma crítica quanto a utilização da polarização de forma neutra.
Nesse sentido, o estudo das desigualdades é ignorado nas pesquisas das áreas de ciência política e comunicação, que frequentemente deixam de abordar essa questão de forma adequada. Segundo os autores, a polarização seria um subproduto em sociedades desiguais para alcanças a democracia. A polarização nas redes sociais se mostra um tema visível, mas existem outros fatores que também influenciam a polarização, como religião e padrões residenciais (menos discutidos). Logo, as redes sociais também são ferramentas de justiça e responsabilização, como foi demonstrado pelo movimento Black Lives Matter, que influenciou a opinião pública e ampliou o debate sobre racismo.
Em que, em resistência ao progresso antirracistas, ocorreram manifestações com slogans como “All Lives Matter” nas redes sociais, buscando manter o status quo racista. A estrutura digital do movimento Black Lives Matter chamou atenção da mídia e do público, resultando na polarização, mas também ampliando apoio à causa da justiça racial. No entanto, a literatura sobre polarização muitas vezes ignora questões de poder racial e outras formas de estratificação social, como classe e gênero, além da história de opressão nos Estados Unidos, como escravidão e genocídio indígena.
O artigo apresenta uma lacuna na literatura, que frequentemente se concentra apenas nos aspectos negativos das plataformas digitais e da polarização. Criticando a falta de atenção ao estudo das desigualdades sociais nas pesquisas sobre esses temas. Também apresenta o papel das plataformas digitais na discussão e debates de grupos sociais, como o movimento Black Lives Matter, que influenciou a opinião pública e como as formas de estratificação social são ignoradas na literatura sobre polarização. Considerando, ainda, o extremismo como algo negativo e não a polarização.
Referência
Kreiss, D., & McGregor, S. C. (2024). A review and provocation: On polarization and platforms. New Media & Society, 26(1), 556-579.
* Náthaly Sarah da Veiga Costa é graduada em Ciências Sociais na Universidade Federal do Paraná, na Linha de Formação em Ciência Política. Lattes: http://lattes.cnpq.br/5543993658007833.
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