Os paradoxos e desafios da revisão por pares: preservando a qualidade e promovendo a inovação na pesquisa acadêmica
Maíra Orso*
O artigo “The Paradox of Peer Review: Admitting too Much or Allowing too Little?” analisa o sistema de revisão por pares, um pilar fundamental da vida acadêmica, e discute suas implicações, desafios e críticas. O autor começa destacando a importância do peer review como um mecanismo de auto-regulação e avaliação da qualidade do trabalho acadêmico, que certifica a correção de procedimentos, estabelece a plausibilidade de resultados e aloca recursos escassos, como espaço em revistas, fundos de pesquisa e reconhecimento acadêmico.
O artigo, no entanto, não deixa de abordar as críticas significativas ao processo de revisão por pares, que incluem a seleção limitada de revisores, a falta de seriedade e inconsistência nos comentários, a falta de imparcialidade, além do impacto das características de status do autor (como afiliação institucional e gênero) no destino dos manuscritos. Essas críticas são centrais para o entendimento das limitações do peer review e de como elas afetam a qualidade e a inovação na pesquisa acadêmica.
Eisenhart explora os desafios contemporâneos ao sistema de revisão por pares a partir de duas perspectivas principais. De um lado, estão aqueles que acreditam que os padrões de pesquisa não estão sendo mantidos adequadamente, resultando na aceitação de trabalhos fracos e na falta de rigor científico. Do outro lado, estão os que defendem que as comissões de revisão são conservadoras demais, desqualificando projetos inovadores e perspectivas diversas, que poderiam enriquecer o campo acadêmico.
Um ponto de destaque no texto é a preocupação com a manutenção dos padrões de qualidade na pesquisa educacional, tanto quantitativa quanto qualitativa. A autora argumenta que, na tentativa de incluir múltiplas perspectivas nos paineis de revisão, acabam-se incluindo muitos não-especialistas. Estes, como professores, pais ou administradores, apesar de poderem contribuir com a relevância prática da pesquisa, podem não ter o conhecimento técnico necessário para avaliar adequadamente os aspectos científicos do trabalho, resultando em avaliações técnicas deficientes.
O artigo também aborda a dificuldade em encontrar revisores qualificados e o problema dos revisores que, por serem bem-intencionados, relutam em fornecer críticas construtivas, resultando em revisões pouco úteis para os autores e tomadores de decisão. A questão de mérito na pesquisa educacional é amplamente discutida, especialmente no que se refere à avaliação justa e abrangente, considerando a diversidade de perspectivas e métodos dentro do campo.
Outro problema levantado por Eisenhart é o viés introduzido pela predominância de acadêmicos seniores como revisores, que tendem a avaliar o trabalho dos acadêmicos juniores com base em padrões estabelecidos e conservadores, favorecendo o status quo. Isso cria barreiras significativas para novas ideias e abordagens, especialmente aquelas que desafiam as visões acadêmicas tradicionais ou estabelecidas.
Para mitigar esses desafios, o autor sugere a formação de uma nova geração de pesquisadores que possam apreciar e integrar diferentes perspectivas, ao mesmo tempo em que mantém altos padrões de qualidade. Isso envolve expor os alunos a uma variedade de abordagens e promover a colaboração entre estudiosos de diferentes origens e experiências. Essa proposta visa superar a fragmentação no campo acadêmico e promover um ambiente mais inclusivo e inovador, que valorize tanto a excelência científica quanto a diversidade de pensamento.
Referência
Eisenhart, M. (2002). The paradox of peer review: Admitting too much or allowing too little?. Research in Science Education, 32, 241-255.
* Maíra Orso é doutoranda bolsista CAPES em Comunicação pela linha Comunicação e Política da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e Mestre em Comunicação pela mesma instituição. Graduada em Jornalismo pela Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG). Tem interesse em pesquisas sobre jornalismo político, ativismo digital, comunicação política online, gênero e opinião pública. E-mail: maira.m.orso@gmail.com.
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