Sob ataque, conceito de jornalismo precisa de refinamento
Isadora Rupp*
O descrédito propagado por líderes de extrema-direita, como o ex-presidente Donald Trump, nos Estados Unidos, e Jair Bolsonaro, no Brasil, é um dos elementos que colocou o jornalismo em xeque, em um movimento mundial sustentado por apoiadores mais radicais e engajados e reforçado por redes sociais.
Esse movimento não gerou somente desconfiança em relação à atividade, aos profissionais e aos meios de comunicação (sobretudo os tradicionais). Mas também colocou a necessidade de um refinamento em relação à definição conceitual sobre o que é jornalismo. É o que defende o autor Stephen D. Reese no artigo “The Institution of Journalism: Conceptualizing the Press in a Hybrid Media System“.
Para acomodar novas formas institucionais de jornalismo, especialmente em um sistema de mídia híbrido que congrega várias plataformas, Reese propõe uma nova tipologia da definição de jornalismo. Segundo o pesquisador, ela deve levar em consideração essa dinâmica de descrédito da imprensa por parte de autoridades. Isso colocou o jornalismo em uma posição de elite e, por consequência, alvo preferencial de políticos como Trump, por exemplo.
Logo, segundo o autor, não se deve enxergar mais o jornalismo como algo inabalável e parte de uma suposta estabilidade institucional, e há necessidade de diferenciar o jornalismo de notícias simplesmente, avaliando quais estruturas contribuem para essas qualidades. E se atentar para a deslegitimação populista que ocorre principalmente em relação ao jornalismo de prestação de contas, que geralmente envolve o meio político e que, diz Reese, é a mais fértil para gerar esse tipo de ataque de líderes populistas e seus seguidores.
Ao contrário de definições de que o jornalismo é uma “instituição estável” (Deuze e WitschgeI), Reese salienta que essa proposição não aparece de forma urgente dentro da pesquisa em jornalismo. E cita formas, dentro da prática jornalística, para reduzir a descredibilização da informação por parte de autoridades.
Um deles é a investigação Panamá Pappers, apuração que envolveu mais de 300 jornalistas e 109 veículos de 76 países sobre o paraíso fiscal. Resse fala que esse tipo de projeto deixa o jornalismo mais resiliente aos ataques e torna-se, de fato, institucional, ao transcender uma pessoa, organização ou forma.
REFERÊNCIA
Reese, S. D. (2021). The Institution of Journalism: Conceptualizing the Press in a Hybrid Media System. Digital Journalism, 1-14.
* Mestranda em Comunicação pela Universidade Federal do Paraná. Membro do Grupo de Pesquisa em Comunicação, Política e Tecnologia (PONTE/UFPR). Jornalista com mais de uma década de experiência em reportagem e edição. Já colaborou para veículos como Revista piauí e BBC Brasil. Atualmente é redatora no Nexo Jornal.
As opiniões expressas pela(o)s autora(e)s pertencem a ela(e)s e não refletem necessariamente a opinião do Grupo de Pesquisa e nem de seus integrantes.