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Explorando o papel do profissional da política: profissionalização, consultoria e estratégia a partir da perspectiva de Holz-Bacha

Por Rafael Linhares e Padilha*

Não é novidade que as relações envolvendo o mundo político estão cada vez mais complexas e desafiadoras, tanto para candidatos quanto para governos. Por exemplo, colocar em pé uma campanha eleitoral leva tempo, dinheiro e – mais importante – necessita de profissionais extremamente especializados nas mais diversas áreas. A diversidade e influências que incidem sobre uma campanha eleitoral torna essencial o auxílio de profissionais do marketing, social-midias, publicitários, especialistas em opinião pública e analistas de dados para uma boa condução do processo.

Quando pensamos na gestão governamental, a lógica é semelhante: manter uma boa imagem na relação entre representante-representado é essencial para governos obterem uma boa gestão governamental: pesquisas de opinião pública são extensivamente contratadas para avaliar a penetração de programas promovidos por governos perante os cidadãos, para identificar possíveis gargalos de representação governamental, avaliar a popularidade de governos e antecipar problemas de imagem pública.

Outro ponto de importância é compreender por onde os cidadãos recebem e disseminam informações. Por qual meio um governo deve veicular propagandas divulgando seus feitos e realizações? Para responder a essas perguntas é necessário um conjunto de profissionais e, dessa forma, um mercado para consultores políticos, empresas de inteligência e institutos de pesquisa que se evolvem na entrega desses serviços.

Essa é uma das linhas de análise dos estudos de Christina Holtz-Bacha sobre a profissionalização da política, mais especificamente no verbete Professionalization publicado na Encyclopedia of Political Communication (2015). Nele, Holtz-Bacha procura inicialmente definir o conceito de profissionalização e demonstrar de que forma ele evoluiu ao longo do tempo, desde sua perspectiva sociológica até sua aplicação na área da comunicação política.

Para começar, o conceito foi utilizado por Parsons para descrever o processo pelo qual as profissões se profissionalizam e aprofundado por Wilensky. Wilensky. Argumenta que esse processo passa por algumas etapas – desde a especialização, a academização, a fundação de organizações profissionais e o desenvolvimento de padrões profissionais. Assim, para além da ideia de que as “profissões se profissionalizam” apresentada inicialmente por Parsons (BRANTE, 2011).

Dessa forma, algumas mudanças na gestão de campanhas eleitorais estão relacionadas com os processos de modernização observados em Halman e Pettersson (1995), que apresentam a ideia de que as mudanças na sociedade, tais como a introdução de novas tecnologias, por exemplo, forçam uma mudança na arena política.

Nesse sentido, um ótimo exemplo é a disseminação das tecnologias de comunicação digital como as redes sociais, onde o eleitorado e os atores políticos passam a estar cada vez mais presentes e assim geram mudanças nos processos eleitorais.

Aprofundando um pouco mais o argumento anterior e procurando exemplificar essa ideia a partir de dados empíricos, é possível avaliar como essa mudança ocorre no caso brasileiro. Em pesquisas recentes promovidas pela  Quaest, essa questão é perceptível: em julho de 2022, 47% dos brasileiros se informavam sobre política via TV; enquanto em agosto de 2023, pouco mais de um ano depois, esse percentual caiu para 40%. Na mesma linha, em julho de 2022, 24% dos brasileiros afirmavam se informar sobre política a partir de redes sociais, percentual que aumentou para 30% em agosto de 2023. 

A área acadêmica também mapeia as mudanças na arena política promovidas pelas novas tecnologias de comunicação. Embora considerando um período diferente das informações apresentadas anteriormente, Braga e Carlomagno (2018) apresentam dados sobre a presença digital de candidatos às eleições majoritárias no Brasil. Os resultados indicam importantes mudanças promovidas pelas novas tecnologias de comunicação: desde 2010 mais de 80% dos candidatos para os cargos de prefeito, governador, senador e presidente possuíam perfil em pelo menos uma rede social. Esse estudo indica uma clara mudança nas gestões de campanha e manutenção de mandato, uma vez que, no período de 2002 a 2008, esse percentual variou entre 0% a 25%.

Como já argumentamos, com as mudanças na arena política e com a profissionalização das campanhas, diversos profissionais da política e da comunicação passam a ser requisitados por candidatos para a execução de tarefas especializadas de campanha.  Dessa forma, o papel do consultor político tornou-se essencial para políticos e partidos no desenvolvimento de estratégias de campanha e de comunicação com o eleitorado (THUMBER; RAY, 2015).

Entretanto, Thumber e Ray (2015) alertam que o papel dos consultores políticos também podem ser alvo de questões éticas como, por exemplo, no caso de um consultor prestar serviços para um partido e um grupo de interesse com objetivos conflitantes. Além disso, é argumentado que a influência dos consultores políticos pode permitir que determinados interesses tenham uma voz desproporcional dentro dos processos políticos.

Um dos pontos elencados por estudiosos do tema é relacionado a algumas técnicas desempenhadas por profissionais da arena política que, por vezes, são alvos de debate. Uma delas é o uso de técnicas de Spin Doctoring. Para Chiara Valentini (2015), o Spin Doctoring consiste na apresentação de aspectos positivos de determinado fato ou notícia em detrimento de seus atributos negativos. Dessa forma, podemos definir tal tática como uma técnica que busca proteger determinadas imagens públicas, realizar a defesa de críticas, obter consenso e apoio do público e, com isso, realizar a divulgação de ideias e opiniões.

Para finalizar, a partir da perspectiva da Holtz-Bacha, podemos argumentar que as mudanças promovidas pelos processos de profissionalização da política são contínuas na medida em que os ambientes sociais e políticos mudam. Isto é, a cada nova tecnologia ou meio de comunicação que ganha a adesão do público, as forças políticas passam por etapas de adaptação e desenvolvimento, gerando a necessidade de profissionais especializados, apresentados aqui nas figuras dos consultores, e levantando debates acerca de técnicas e métodos utilizados nesse processo.  

Referência principal:

HOLTZ-BACHA, Christina. The International Encyclopedia of Political Communication. Professionalization. vol1, 2015.

Referências complementares:

THUMBER, James; RAY, Aaron. The International Encyclopedia of Political Communication. Consultant, Political. vol1, 2015.

VALENTINI, Chiara; The International Encyclopedia of Political Communication.. Spin Doctoring. vol1, 2015.

BRAGA, S. S. CARLOMAGNO, M. C. Eleições como de costume? Uma análise longitudinal das mudanças provocadas nas campanhas eleitorais brasileiras pelas tecnologias digitais (1998- 2016). Revista Brasileira de Ciência Política, Brasília, n. 26, p 7-62, 2018.

BRANTE, T. Professions as science-based occupations. Professions and professionalism, 2011

HALMAN, L;  PETTERSSON, T. Individualization and value fragmentation. In R. de Moor (Ed.), Values in Western societies. Tilburg, The Netherlands: Tilburg University Press, pp. 297–316 1995.

* Rafael Linhares e Padilha é mestrando em Ciência Política na UFPR (Universidade Federal do Paraná) e formado em Ciências Sociais com ênfase em Ciência Política pela mesma instituição. E-mail: rafaellinhares3030@gmail.com. Lattes:  http://lattes.cnpq.br/2430138161486201

As opiniões expressas pela(o)s autora(e)s pertencem a ela(e)s e não refletem necessariamente a opinião do Grupo de Pesquisa e nem de seus integrantes.

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