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Explorando o conceito de Hibridismo nos Estudos de Jornalismo

* Por Náthaly Sarah da Veiga Costa

O artigo “The Concept of Hybridity in Journalism Studies”, de autoria de Daniel Hallin, Claudia Mellado e Paolo Mancini, referências da área dos estudos de comunicação, foi publicado este ano pelo Journal of Press/Politics.

O trabalho busca esclarecer o conceito de hibridismo no campo do jornalismo, sua definição e usos, partindo do mapeamento de três contextos em que o hibridismo está inserido.

Trata-se de um artigo interessante não apenas para entender a origem, definição e usos do hibridismo, mas também para compreender suas limitações e campos em que se encontra inserido. Logo, pode ser utilizado como leitura inicial importante sobre as complexidades desse conceito e como foi detalhado através do mapeamento dos contextos apresentados, sendo fundamental não somente no campo do jornalismo, mas também para outras áreas.

Isso porqueos autores verificam três contextos nos quais o hibridismo tem sido utilizado: em relação às novas mídias, às correntes globais da cultura jornalística e como algo cotidiano, inserido na estrutura jornalística. Segundo Hallin et al. (2023, p. 220), “hibridismo refere-se a uma combinação de ‘diferentes’ elementos produzidos por processos de mistura, empréstimo e apropriação”.  

É preciso registrar, como fazem os autores do artigo aqui comentado, que a flexibilidade da utilização da ideia de hibridismo acaba sendo criticada por outros pesquisadores, como Blumer. A principais críticas baseiam-se nos argumentos de que há imprecisão e generalização do uso do conceito. Blumer ressalta que isso se daria devido ao efeito sensibilizador, ou seja, uma vez que esse conceito causaria um senso de referência geral.

Retornando à abordagem dos contextos, a primeira descrita no trabalho é relacionada às novas mídias: os pesquisadores indicam as mudanças que ocorreram na produção de notícias provocadas pela expansão da televisão comercial. Nesse momento é citado o infroentretenimento, isto é, a combinação de notícias e entretenimento como realities shows policiais.  Em “The Hybrid Media System” de Chadwick (2013), o autor argumenta  que mesmo com a hibridismo, o jornalismo profissional ligados as “velhas” formas de mídia ainda permaneceriam centrais. Logo, os autores argumentam que o surgimento do jornalismo cidadão, das mídias sociais e de outras formas de mídia participativa desafiam as noções tradicionais de objetividade, autoridade e expertise jornalística.

O texto segue abordando o segundo aspecto, que compreende globalização, descolonização e cultura híbrida (cuja literatura baseia-se em estudos pós-coloniais e áreas afins). O debate tem, portanto, a apropriação como ideia central. Nesse sentido, os autores evidenciam como podem ser adaptadas práticas globais aos contextos culturais, o papel da mídia pode se adequar a determinados sistemas de notícias. Logo, a globalização da mídia levou ao surgimento de formas híbridas de jornalismo que combinam elementos de diferentes tradições e práticas culturais, saindo das dicotomias para formas mais específicas, globais e locais.

Na terceira linha, tem-se estrutura, prática e hibridismo cotidiano das culturas jornalísticas. Esta literatura sugere o hibridismo é algo cotidiano nas culturas jornalísticas, enraizado nas práticas de produção de notícias e na forma pelas quais os jornais produzem seu trabalho. O autor Bulck fala do hibridismo para discutir o jornalismo de celebridades,  se referindo ao seu sentido intertextual. O Jornalismo Role Performance Project (JRP), conjunto de papéis jornalístico, entende hibridismo como algo “situacional, histórico e fluido” – apontando para a complexidade das notícias e práticas jornalísticas. Logo, compreendemos o campo do jornalismo como um campo de diferentes atores em uma dinâmica de posições de poder com outros campos.

Segundo Hallin, Mellado e Mancini (2023), são alertados possíveis ambiguidades e armadilhas, ligadas ao conceito de hibridismo, uma vez que não existem padrões definidos, nem dados sobre suas limitações e contexto. Portanto, o texto coloca em evidência uma estrutura de dependência já existente. Outro fator considerado além desse, é universalidade do hibridismo – autores como Kraidy, Chadwick acreditam que todos os sistemas de alguma forma foram híbridos.  

Nesse sentido, a ideia do ciclo de hibridização de Stross é evidenciada, em que formas que emergem como híbridos podem se estabilizar, passando a ser vistos como formas “puras” a partir das quais novos híbridos podem surgir, como por exemplo, os gêneros musicais. Por fim, o artigo apresenta a definição do hibridismo ao mesmo tempo que indica fragilidades resultados da flexibilidade desse conceito, que é apontado como impreciso por alguns autores. Por meio da mapeação dos três contextos em que o hibridismo pode ser inserido e utilizado, têm se compreensão dos impactos das novas mídias no jornalismo, mas também da sua combinação com as “antigas” mídias.

Partindo das características do hibridismo, conseguimos ter uma melhor compreensão não somente da construção do conceito, mas também da dinâmica e complexidade envolvidas.

Referência

Hallin, D. C., Mellado, C., & Mancini, P. (2023). The Concept of Hybridity in Journalism Studies. The International Journal of Press/Politics, 28(1), 219–237.

* Estudante da Graduação em Ciências Sociais na Universidade Federal do Paraná, na Linha de Formação em Ciência Política. É bolsista do projeto “Opinião pública e debate político no Brasil pós redes sociais online”.

As opiniões expressas pela(o)s autora(e)s pertencem a ela(e)s e não refletem necessariamente a opinião do Grupo de Pesquisa e nem de seus integrantes.

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