skip to Main Content

Como o papel do jornalismo é desempenhado em governos populistas

Por Bruna Marcela de Oliveira Costa Alvares*

O artigo exposto aqui é o “Framing media populism: The political role of news media editorials in Duterte’s Philippines” publicado na revista Sage Journals em 2020. Seu autor, Jefferson Lyndon Ragragio, é professor assistente na faculdade de desenvolvimento em Comunicação da University of the Philippines Los Baños. Suas áreas de pesquisa são mídia, política, autoritarismo e populismo, principalmente nas Filipinas.

Para responder o que propõe a pesquisa, que é analisar como quatro dos maiores portais noticiosos das Filipinas se portam nos editoriais políticos e buscar problematizar a mídia enquanto quarto Estado em um contexto político populista e autoritário, Ragragio utiliza o método de Framing – ou enquadramentos.

Ele observa o objeto do editorial, narrativa, tom da mensagem e escolhas das palavras. O primeiro refere-se aos tópicos editoriais, como política, direitos humanos e economia, o segundo refere-se à narrativa, ao personagem que é Rodrigo Duterte, ex-presidente autoritário das Filipinas, seus apoiadores e desafetos. Já o terceiro ponto é o tom indicado, que pode ser tanto uma crítica sutil quanto um tom apoiador. O quarto ponto, por fim, é o uso das palavras que endossam o tom. Assim, o enquadramento é uma forma de perceber padrões e fazer interpretações particulares e específicas.

A discussão do estudo se estende na análise de 261 editoriais dos quatro meios, (Manila Bulletin, Philippine Daily Inquirer, Rappler e Philippine Star) – 67 do Bulletin, 72 do Inquirer, 61 do Rappler e 61 do Star. Foram selecionados os editoriais que cobriam pautas do governo de Rodrigo Duterte e os textos em inglês.

O Bulletin está sob controle da família Yap, detentora de empresas bancárias e hoteleiras, desde que Emilio T. Yap comprou a empresa de Hans Menzi, ajudante militar de Ferdinand Marcos, que presidiu as Filipinas durante 21 anos. O jornal cobre economia e a relação de Duterte com Xi Jinping, presidente da República Popular da China, e tem um tom esperançoso em suas colocações, com textos descritivos que reforçam as evidências de fontes do próprio governo.

Inquirer é uma empresa presidida por Alexandra Prieto-Romualdez, casada com um sobrinho de Marcos, Philip Romualdez, e que tem a maioria das ações em nome de Ramon S. Ang, amigo de Duterte. Seus editoriais cobrem as relações de Duterte e Xi, a guerra contra as drogas, economia e assassinatos. Geralmente são críticos de questões sociopolíticas, como assassinatos de usuários de drogas e de políticos locais, utilizando fontes não-governamentais e narrativas vindas das vítimas, mas, por outro lado, são meramente descritivos quando tratam de economia.

Já a Rappler é fundada pela Maria Ressa, cobre a guerra contra as drogas, Duterte e Xi, Duterte e Marcos e a polícia e a impunidade. Geralmente não se expressam sobre economia, mas são críticos das questões sociais e humanitárias e usam humor e ironia para apresentarem suas opiniões, possuem um público mais jovem.

Por último, a Star que é presidida pelo Miguel Belmonte, apoiador do regime de Duterte. Nos seus editoriais abordam guerra contra as drogas, assassinatos, polícia e corrupção, usam tom sutil, esperançoso e descritivo no texto e embora seus objetos sejam críticos com o populista, dão mais fôlego à visão positiva do presidente.

Dessa forma, o estudo se faz relevante por trazer uma perspectiva não-ocidentalizada de uma comunicação inserida em contexto populista e autoritário, trazendo como resultado da análise a apresentação de três categorias meta temáticas dos enquadramentos de mídia.

O primeiro, que é quadros de degradação de caráter, vai delinear como a mídia denuncia os laços de Duterte com outros atores políticos, particularmente os Marcos e o Xi. Em segundo lugar, o estabelecimento de quadros que ecoam o mantra otimista do governo em meio à crise. E terceiro, os quadros não editoriais, nos quais exibem o fracasso da mídia em fazer publicações inspiradas nas características vigilantes da mídia. Cada uma dessas categorias tem quadros subjacentes que são indicativos do potencial democrático, ou a falta dele, dos meios de comunicação.

Referência

Ragragio, J. L. D. (2022). Framing media populism: The political role of news media editorials in Duterte’s Philippines. Journalism, 23(6), 1301-1318.

*Bruna Alvares é mestranda em Comunicação (UFPR) e bacharel em jornalismo.

As opiniões expressas pela(o)s autora(e)s pertencem a ela(e)s e não refletem necessariamente a opinião do Grupo de Pesquisa e nem de seus integrantes.

Back To Top
Search