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Populismo anti mídia e estratégias de defesa adotadas por jornalistas em Israel

Por Gisele Barão da Silva*

O ataque a jornalistas e à imprensa de maneira geral por parte de líderes políticos é uma realidade comum em vários países do mundo. Quando uma cobertura os desagrada, a estratégia desses atores é tratar os jornalistas como inimigos ou acusá-los de propagar notícias falsas. De olho nesse cenário e nos prejuízos que pode trazer à confiança do público no jornalismo e à liberdade de imprensa, pesquisadores têm se dedicado a estudar seu impacto na atividade profissional.

O artigo “The Strategic Bias: How Journalists Respond to Antimedia Populism”, publicado na revista The International Journal of Press/Politics por Ayala Panievsky, é um exemplo desses estudos. Pesquisadora do Departamento de Sociologia da Universidade de Cambridge, ela mostra como os jornalistas israelenses reagem a ataques.

A análise parte de 45 entrevistas semiestruturadas com profissionais de grandes empresas jornalísticas que foram publicamente atacados pelo primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu. seja na página do político no Facebook, em discursos públicos ou em campanhas eleitorais, por exemplo. São correspondentes, comentaristas, âncoras, jornalistas investigativos e editores, com idade média de 44,2 anos. A autora explica que, embora a mídia tenha desempenhado um papel importante na ascensão de Netanyahu ao poder, rapidamente tornou-se um de seus alvos.

As principais questões-guia do artigo são: como os jornalistas respondem a ameaças à sua credibilidade e legitimidade? Quais estratégias aplicam para combater as alegações populistas e manter a confiança do público? E quais podem ser as implicações dessa realidade para o jornalismo, o debate político e a democracia?

A revisão de literatura recupera pesquisas sobre o populismo anti mídia, e que desafios isso traz para os jornalistas profissionais. Panievsky reforça que, embora exista uma relação natural de troca entre imprensa e políticos, pois os jornalistas precisam das pautas e políticos de visibilidade, a lógica da comunicação populista é outra. Os políticos populistas “anti mídia” são menos dependentes de cobertura positiva, pois sabem usar o impulsionamento negativo em suas campanhas.

Quanto aos resultados, embora a maioria dos entrevistados tenha afirmado que a melhor resposta ao populismo “anti mídia” seria reforçar a objetividade da sua produção jornalística, muitos deles revelaram adotar um “viés estratégico” em suas reportagens. Segundo mostra o estudo, alguns profissionais inclinam seus textos a um posicionamento político mais voltado para a direita. Assim, acreditam se esquivar das acusações do primeiro-ministro de que a mídia do país seria “esquerdista”.

Esse recurso, que para os entrevistados é uma forma de defenderem sua autoridade e legitimidade, tem o custo da autocensura. Isso se mostra em suas escolhas cotidianas, como fontes que deveriam entrevistar, quais assuntos cobrir, qual terminologia usar.

Ao mesmo tempo em que acaba por promover os políticos populistas, essa reação interfere na liberdade de imprensa. Ou seja, por medo, os jornalistas se rendem a ideias de políticos que os atacam e mudam seus modos de fazer – comprometendo seu papel democrático e correndo o risco de reduzir a confiança do público no seu trabalho. Vale ler a adoção dessa estratégia como um reflexo da própria percepção dos jornalistas sobre o poder da mídia em si, e como se sentem impotentes naquele contexto.

Enquanto boa parte dos estudos se concentra em casos isolados, o texto de Ayala trata de uma agenda que tem se espalhado por diversos países. Outro diferencial é a metodologia utilizada. As entrevistas conseguem captar a contradição na fala dos jornalistas: ao mesmo tempo em que defendem valores profissionais como a objetividade, equilíbrio e neutralidade, eles demonstram utilizar práticas pouco objetivas.

Por trazer detalhes sobre o sistema de mídia israelense, esse artigo também é uma boa leitura para compreender como o tratamento agressivo com relação à imprensa pode estar relacionado a diversos fatores. Atualmente, a mídia de notícias israelense sofre com a instabilidade econômica e fortes pressões políticas, com hiper concentração, mídia partidária e intensificação dos laços clientelistas (Markowitz-Elfassi et al., 2018). Essas condições são uma dificuldade para o jornalismo realizar sua função democrática de informar os cidadãos.

Referência

Panievsky, Ayala. The Strategic Bias: How Journalists Respond to Antimedia Populism. The International Journal of Press/politics 27.4 (2022): 808-26.

* Jornalista da E-Paraná Comunicação e Doutoranda em Comunicação pela Universidade Federal do Paraná (UFPR).

As opiniões expressas pela(o)s autora(e)s pertencem a ela(e)s e não refletem necessariamente a opinião do Grupo de Pesquisa e nem de seus integrantes.

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